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Rebelo Marinho
Consta que Lula da Silva visitará Portugal em Abril. Disse-o, solene e formalmente, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho, em Brasília, avançando que o presidente brasileiro discursará na Assembleia da República, no dia 25 de Abril, facto incomum, mas, pelos vistos, não impossível.
À primeira impressão, leve e lavada como o algodão, nada de mais. Sabemos todos como Lula é amigo dos “tugas” e adossado a algumas exímias portugalidades. Se foi convidado, e se há ocasião, que “bote faladura”, cá estaremos para ouvir o que nos traz de novo.
Acontece, porém, que nem o assunto foi à conferência de líderes, nem a Assembleia da República, a quem cabe deliberar sobre o que se passa na sua casa, e fazer o respectivo convite, autorizou ainda a intervenção do presidente brasileiro.
Ou se trata de uma gaffe, mais uma a somar a outras, do espontâneo governante, ou, ultrapassada e ignorada, é uma clara invasão das competências da assembleia legislativa. Ou então, e por último, o mais garantido, é a certeza antecipada da concordância, respaldada na maioria absoluta que tudo permite e alcança.
Acontece, todavia, que esta antecipação destapa a face mais sombria das relações entre os governos e as maiorias absolutas que lhes dão sustento: estas tornam-se as caixas de ressonância daqueles, obedecendo às suas instruções e seguindo o que convém ao executivo, pouco ligando ao que interessa ao povo.
De concreto, dir-se-á que pouco mal virá ao mundo nacional, e que, como é bem verdade, se trata mais de uma questão de princípio e de respeito pela separação de poderes. Digamos que é um abuso de confiança e de poder, e também uma desvalorização dos outros partidos que têm o direito a dizerem de sua justiça e a serem tratados de forma mais cortês. Não têm de ser embrulhados no pacote da unanimidade e de serem arrolados à procissão do “diz que sim”. Valem bem mais do que isso, quanto mais não seja pela denúncia, pela discordância, pelo confronto, por não permitirem que a casa da democracia seja uma desacolhedora e desaconselhada casa de pasto, onde se se serve a mesma insípida refeição. Além de que é feio e fica mal meter o bedelho onde não se é chamado.
A esta tentação não escapa, contudo, nenhum governo, no passado e no presente, tornada grosseira e até ofensiva, tal o descaro, sempre que a representação é absolutamente confortável e segura. Só que há uns mais subtis e discretos, e outros absolutamente descarados e ostensivos, que exibem o excesso, de nada lhe interessando o que os outros pensam da sua pedante e pesporrente atitude.
Vícios perigosos e doentios, que só molestam a vida democrática e infectam a sua apetecida saúde.
(Fotos DR)
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