O debate teve três vencidos, os entrevistadores, que não souberam trabalhar todas as grandes áreas do nosso tempo. A transição digital, a emergência climática, a educação, foram temas que ficaram longe.
Mas há dois vencedores, os contendores. E nestes foi António Costa quem ganhou por ter mostrado que Portugal tem um líder, um projeto e precisa de uma maioria.
Rui Rio foi para o debate tentando esconder algumas insuficiências e fragilidades. O único ponto que o fazia sentar no Capitólio adivinhava-se numa tentativa de levar Costa a desviar-se do seu objetivo – a maioria para governar sem grandes percalços. Costa não cedeu, porque não se deve deixar de lutar por aquilo em que acreditamos e podemos conseguir. Alargou ainda mais os campos para a construção de novos acordos parlamentares a partir de 30 de janeiro.
Costa fundamentou bem a resposta à acusação de não ter sido claro, em 2015, sobre a governação à esquerda. Tudo foi claro, como hoje. A Assembleia da República é sempre o espaço de todas as soluções.
Costa foi claro na redução progressiva e seletiva dos impostos sobre o trabalho, em especial da classe média, aumentando, assim, o rendimento disponível e o consumo. E nos apoios às empresas tendo em conta a sua importância para as exportações, para a substituição de importações e para as que mais empregos criarem. O argumento da estagnação da economia caiu por terra quando Costa anunciou os indicadores do aumento das vendas para outros mercados e do investimento estrangeiro. Como também caiu por terra o argumento insistente de que Portugal tinha visto aumentar a carga fiscal. Costa esclareceu que houve uma redução dos impostos em 1% e o aumento das receitas da segurança social fruto do aumento do emprego.
Rio tem, no seu programa, um parágrafo para o salário mínimo. Bem se sabe, conter o aumento do salário mínimo não resolverá, só por si, a valorização do salário médio. Costa reclamou o consenso nacional sobre a matéria, incluindo os empresários a braços com a falta de mão de obra qualificada para os desafios do tempo de recuperação em que vamos entrar.
A questão do médico de família, no âmbito dos cuidados de saúde primários, deixou claro, pelas respostas de ambos os candidatos, a dificuldade de recrutamento de médicos. Rui Rio desviou para canto propondo a entrega dos doentes ao privado – um negócio; Costa foi ao cerne da questão – o Serviço Nacional de Saúde deve continuar a ser reforçado sem qualquer opção pela privatização da prestação.
O porta-aviões de Rio foi ao fundo quando não conseguiu justificar a eliminação do princípio de um SNS tendencialmente gratuito, obrigando a classe média a novos e mais exigentes pagamentos. De um SNS “tendencialmente gratuito” a um SNS em que “ninguém pode ver recusado tratamento médico por questões financeiras”, vai o fosso entre a solidariedade e antiga caridade, entre a esquerda moderna e direita mais conservadora.
Na justiça o diagnóstico foi partilhado, mas só Costa apresentou soluções para todos os universos. Alertou bem para o perigo das propostas do PSD de politizar o Ministério Público e a criação, claramente inconstitucional, de um Provedor do Utente que passaria a ser um fiscal dos tribunais.
A crise pandémica não esteve no debate. Ainda bem. O país precisa de virar a página e continuar a avançar.
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