O filho da Dona Dolores

Deste relato, absolutamente factual e fidedigno, resulta que Ronaldo é o único jogador português consagrado como o melhor jogador do mundo, e por 5 vezes - 1 vez o "Ballon d'Or", 2 vezes o "FIFA Ballon d'Or" e outas tantas o "The Best", acumulando no biénio com um par de Bolas de Ouro.

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  • 12:56 | Segunda-feira, 08 de Julho de 2024
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O “Ballon d’ Or”, a Bola de Ouro, foi instituída pela revista francesa “France Football”, em 1956. Desde essa data, e até 1994, destinava-se a galardoar o “Futebolista Europeu do Ano”.

O prémio era restrito aos europeus, naturais ou naturalizados. Foi nesse período, em 1965, que Eusébio a venceu. Embora fosse africano, Moçambique era uma colónia portuguesa. Por essa singela razão, Pelé e Maradona nunca foram nomeados os melhores do mundo, apesar de o terem sido, de facto, anos a fio.Até 2006, a distinção passou a eleger já os jogadores que actuavam na Europa, independentemente da sua nacionalidade. Foi durante esta janela do tempo que, em 1995, o liberiano George Weah foi eleito, e em 2000, Luís Figo foi distinguido. A partir de 2007, o prémio alargou o seu âmbito a qualquer jogador, independentemente da nacionalidade e do país onde jogava, critério que se mantém até aos dias de hoje. Em 2008, ao serviço do Manchester United, em 2013, 2014, 2016 e 2017, envergando a camiseta do Real Madrid, Ronaldo venceu 5 Bolas de Ouro.

Como parêntesis, diga-se que, entre 2010 e 2015, o periódico francês firmou uma parceria com a FIFA, e o prémio passa a denominar-se “FIFA – Ballon d’ Or“. Desde 2016, e até ao presente, a parceria dissolveu-se, e a designação voltou à original, “Ballon d’ Or“.


A par, a FIFA institui o “The Best  FIFA Football Awards“. Portanto, é uma falácia, desprovida de qualquer fundamento, a teoria de que Portugal teve, até à data, 3 jogadores considerados os melhores do mundo.

Deste relato, absolutamente factual e fidedigno, resulta que Ronaldo é o único jogador português consagrado como o melhor jogador do mundo, e por 5 vezes – 1 vez o “Ballon d’Or”, 2 vezes o “FIFA Ballon d’Or” e outas tantas o “The Best”, acumulando no biénio com um par de Bolas de Ouro.

Eusébio e Figo tendo ganhado merecidamente a “Ballon d’Or”, e detentores de indiscutível valia internacional, de que Portugal se deve orgulhar, não rivalizaram na disputa do galardão com adversários, à escala universal. Dizer o contrário, é fazer uma feia revisão da História, quiçá impulsionado por exacerbados fervores clubísticos que turvam a lucidez e o discernimento.

Feito este pequeno apontamento histórico-estatístico, também para desconstruir mentiras, que se faça o navio aos mares atlânticos, com a tripulação esclarecida e bem ataviada, atenta ao que se vai passando na proa e na popa, sem descurar a coberta.

Aqui chegados, falta então resto. O desporto de alta competição não tolera desempenhos medianos nem se compraz com os apenas bons, ao jeito de muitos dos convocados para a selecção, os carregadores de piano, e exige sempre prestações superlativas, ao alcance de muito poucos, com CR 7 à cabeça.

Acontece que Ronaldo está claramente em fim de ciclo. A chama não é igual. A vontade, o querer e o instinto estão lá, a fibra, a garra e o nervo são os mesmos, mas os reflexos, a rapidez e a agilidade não são iguais. O drible é outro, menos surpreendente, a recuperação de bola é mais lenta, e os duelos um para um nem sempre os ganha. Cristiano tem de perceber que não é eterno, que já não é o mesmo, perdeu fulgor, e as pernas não respondem da mesma forma.

É natural, não é um Deus, é humano, com todas as suas qualidades e misérias. A sua carreira de sonho e o seu talento não podem ser beliscados pela má gestão do inevitável ocaso, uma fatalidade que a todos toca por igual. Aquele que não tatua o corpo para poder continuar a dar sangue, sem fazer disso alarido, aquele que interrompe um treino para dar atenção a uma criança, não pode permitir que quem vive à sombra dos seus êxitos – direcção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e Martínez-  insista na sua continuidade, por razões que me ponho a adivinhar, e não a afirmar, para não me chamarem de presunçoso. Mas, arriscando, lá vai.

A FPF não é indiferente ao fenómeno de popularidade sem precedentes que Ronaldo é, e que, mau grado os anos que o incomodam e lhe tolhem o passo ligeiro, não pára de crescer, nem é alheia ao facto de ele ser indiscutívelmente a figura mais influente do futebol mundial.

Ronaldo é uma marca que, através dos patrocínios, das transmissões e direitos de TV, da bilhética, do “merchandising” e dos acordos comerciais e promoções, rende dezenas de milhões de Euros/ano à FPF, tendo um impacto significativo nas suas finanças.

Sem isso, sem ele, não haveria a Cidade do Futebol, o canal 11 e outros luxos. Cristiano é o cofre da FPF! A irracionalidade e os caminhos sinuosos das finanças sobrepõem-se à racionalidade puramente futebolística e às vitórias em campo. Não culpem só o Ronaldo!

Cristiano, antecipando-se à miserável procissão do enterro, que se prepara, devia, mesmo assim, libertar-se das amarras, e, depois das férias, anunciar a sua renúncia à selecção nacional. Sair pelo seu pé, e não se deixar empurrar por uma malta que o quer apear, sedenta de novos ídolos. Afastar-se, dar lugar aos mais novos, e aguardar que as novas estrelas emergentes mostrem a sua real valia, e quiçá atinjam o estrelato, que é seu por direito. Manda a prudência e recomenda o bom-senso que Ronaldo se retire a tempo, e esse a tempo é agora. Saber sair, na hora certa, quando as forças já fraquejam e o desempenho já é outro, é uma virtude. Não pode repetir os erros de Eusébio, que se arrastou doridamente, militando em clubes de 2.ª categoria.

O Homem, que na sua natureza, é invejoso e esquecido, mais depressa lhe cobrará os erros e os falhanços recentes do que enaltecerá os seus feitos remotos. E a crítica, ávida de novos heróis, que ainda estão para nascer, não o poupará. Daqui para a frente, o caminho vai estreitar-se, cada vez com mais escolhos, e Ronaldo sabe disso. Não pode hipotecar a sua aura e a sua honra ao pecado da continuidade forçada, que serve muito a tantos. É por esses continuados momentos de glória que deverá ser sempre recordado. O maior, entre os maiores.

 

 

O Imperador, na sua imensa grandeza, deve estar acima das tricas jornalísticas, não dar azo a mexericos da especialidade, e não alimentar esse peditório, que vai engrossando. Mas esta constatação não é, não pode ser uma via verde para o injusto linchamento público de que está a ser alvo, injustamente. É fácil bater nos que estão em baixo, mas não é correcto, nem fica bem. Os que hoje o crucificam, lhe chamam nomes e o acusam, os que o responsabilizam por tudo o que de mal está a acontecer à “selecção da FPF”, os que sentenciam que Portugal joga com 10, quando ele tem exibições menos conseguidas, esquecem-se que durante anos e anos a equipa nacional foi ele e mais 10, que lhe devem a presença em 14 fases finais consecutivas de competições internacionais – 6 Europeus, 5 Mundiais, 2 Liga das Nações, 1 Taça Intercontinental – , que sozinho, carregou a selecção às costas, levantando bancadas e virando os jogos a nosso favor.

Se se quiserem lembrar, sabem bem que antes dele, era um deserto triste, com 4 oásis tímidos – Inglaterra e França, com classificações honrosas, mas sempre com a lamúria dos infelizes, e México e Coreia do Sul/Japão, eliminados, respectivamente, por Marrocos, uma “potência”, e último lugar no grupo de apuramento, e pela Coreia do Sul, um “gigante”, e novamente  o último lugar do grupo e a choradeira do costume, para além de deixarmos uma imagem negra de indisciplina, o “Caso Saltillo”, primeiro, e a agressão, nunca antes vista em competições desta envergadura, ao árbitro argentino, Ángel Sánchez, protagonizado por João Pinto, entretanto recuperado socialmente e catapultado à condição de dirigente da FPF.

Era o tempo das arrelias e das vitimizações. Andávamos nas coxias das competições, a mendigar apuramentos, culpando as arbitragens, eliminados por equipas menores, pendurados em vitórias morais. Éramos uma equipa de vão de escada, gozada por quase tudo o que era futebol a sério, ganhávamos de quando em quando, e era uma bebedeira colectiva, perdiamos quase sempre, e era um funeral nacional.

Os mais velhos lembram-se bem desses tempos, como se recordam dos saltos “impossíveis”, dos remates certeiros, dos “sprints” vertiginosos, das cavalgadas monstruosas de Ronaldo, que finalmente nos colocou nos lugares cimeiros do futebol europeu e mundial, respeitados e temidos por todos.

Os que, hoje, o alcunham de eucalipto, esperem pelo inóspito Saara que, com os camelos e as cabras, fauna preferencial desse lugar, em alegre algaraviada, se aproxima, com a sua retirada. Lá nos encontraremos, com os lamentos de maus perdedores e as carpideiras de outrora.

Acontece que a falta de memória e a ingratidão são duas putas ordinárias e badalhocas que, nas vielas escuras, abrem as coxas moles a qualquer vadio desdentado, de palito na boca, a comer bacalhau frito e a beber vinho de missa.

 

(Fotos DR)

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Publicado em Opinião