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Rebelo Marinho
O debate do estado da nação, cujos ecos se ouvem, confirmou que aquele momento tão impuramente solenizado está desenhado para dar cor ao brilho discursivo e argumentativo dos primeiros-ministros.
Ganha Costa que é um bom tribuno, apesar de ter uma péssima, horrível dicção.
Repetindo o que vem acontecendo anos a fio, desta vez, os governantes, à excepção de Duarte Cordeiro, e os deputados falaram para dentro do hemiciclo, gastando o tempo em tricas e chicanas, sem aflorarem aquilo que, de verdade, interessa ao povo português: a inflação, o custo de vida, a crise alimentar, a seca, os incêndios, a subida do preço dos combustíveis, as urgências na saúde.
Teoricamente, o dia devia servir para prestar contas, dar conta do estado do Estado.
Mas porque tal não interessa a quem governa, e quem governa são sempre os mesmos, estão os ditos senhores confortavelmente instalados neste faz de conta, protagonizando um momento a que nenhum cidadão liga, e que é, politicamente, uma tosca inutilidade, e, qualitativamente, uma banalidade.
Ninguém o ouve, ninguém o segue, salvo os que estão a isso obrigados: comentadores e analistas.
Quando os políticos se derem conta da vacuidade dos seus discursos e de como eles batem no tecto, talvez arrepiem caminho.
Se ainda forem a tempo…
E é por isso que, sobre aqueles momentosos problemas, os governantes, numa aviltante indiferença, disseram nada, não responderam aos pedidos de reformas estruturais, que caíram em saco roto, preferindo as pastosas guerrilhas verbais, de préstimo nulo, mesmo reconhecendo o primeiro-ministro que o país está pior do que há um ano.
Os mais ousados e traquejados permitiram-se o uso de crapulosos vocabulários, às vezes, uns soezes doestos.
De resto, foi mais do mesmo, falar, falar, falar.
Nestes impertinentes encontros de gente tão luminosa, mais parece que a política é um exercício de insulto, retórica e ficção.
E postos os argumentos “sur place”, não vislumbro que advenham grandes ganhos para a República destes “rendez-vous” da elite política “tuga”.
O governo pareceu cansado, e a corrida ainda vai no começo. Sobre um qualquer desígnio nacional, ouviu-se um silêncio que só pode significar uma teimosa ausência de ideias.
E ainda não estamos no tempo do estrebuchar de um moribundo nem perante o estertor da governação.
O maior partido da oposição sofreu da circunstância de o seu presidente estar ausente, e de o líder da bancada ter sido atabalhoadamente substituído, estando o novo, naturalmente, impreparado.
E os restantes líderes aproveitaram o palco e os microfones para, também de graça, falarem ao seu eleitorado.
No mais, o debate foi um deprimente vácuo, monocórdico, sensaborão, desinteressante.
Mas, ou muito me engano, mas a temperatura irá subir em Setembro, com o PS a cair nas sondagens e Montenegro, no terreno, com um tom mais agressivo, a não se deixar fotografar ao lado de Costa, nem a mostrar grande disponibilidade para acordos.
Já fora da AR, valeram ao PM os acordos com a Associação Nacional de Municípios, quanto a transferências de competências, e com as Misericórdias e IPSS, quanto a apoios sociais.
Mesmo com o governo esquivo e reactivo, sopram os ventos de feição a Costa, que continua exímio na arte de fugir às respostas, mais agora protegido pela almofada da maioria absoluta, um respaldo conveniente.
(Foto DR)
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