O dr. Rosalino foi o fidelíssimo intérprete dos cortes na Administração Pública, aquando da passagem da troika por terras lusas.
Coube-lhe a tarefa de reduzir o quadro de funcionários, incumbência que cumpriu com brio e zelo, sem que desse sinais de contrariedade, perante milhares de almas sofridas, esgotadas em crises de ansiedade, mergulhadas numa intranquilidade incomum.
O salário de 16.500 euros mensais, o dobro do do PM, é motivo de comoção nacional, razão de hipócritas indigestões partidárias, assunto para uma apressada – e calculada! – descolagem de Mário, o governador, Pilatos que lava as mãos da imundície que nunca denunciou.
E o Banco de Portugal, na esteira dos congéneres europeus, segue o que as economias ricas determinam, tratando de garantir aos seus quadros superiores, o lúmpen que ocupa os gabinetes de consultores, a elite de investigadores e bolseiros, rendimentos protectores.
É na origem que está o mal. Insanável, porque na génese são todos iguais, fraternos e solidários na repartição dos luxos.
À mesa do réveillon, o champanhe e o caviar serão do melhor, e nada os diferenciará na qualidade da essência e na elegância do flûte, sorvidos até à última gota, numa doentia ganância.
Aqui chegados, se o senhor tem competência, se o senhor está disponível, se o seu salário de origem é principesco, quem, no seu lugar, recusaria o ganha-pão? Quem, na sua posição aceitaria perder remunerações? Quem? Eu não seria parte nesse contrato patrioteiro, eu não trocaria prebendas por lugares pelintras. O amor à Pátria tem limites e o Estado é ingrato. Cidadão exemplar é o que exige tudo aquilo a que tem direito.
Um bom ano, com muitas luzinhas, burros e camelos.