Na gíria, há quem chame “pontómetro” e “dedómetro”‘ ao aparelho que permite o registo biométrico determinante da assiduidade de um trabalhador. Em Espanha, a Fundação Hay Derecho designou “Dedómetro” (https://www.hayderecho.com/dedometro-2023/) à investigação que mede o nível de politização e amiguismo na nomeação dos responsáveis máximos das entidades públicas.
O Dedómetro evidencia que as empresas públicas, mais do que defenderem o interesse dos cidadãos, são uma plataforma para pagar favores políticos. É evidente, face à análise efetuada a 101 altos cargos e 43 entidades, das comunidades madrilena e valenciana, que os perfis, da maioria dos gestores que gerem milhões de euros, não têm currículos à altura das responsabilidades que lhes são conferidas, nem formação, nem experiência e estão excessivamente politizados. Os processos de seleção não revelam objetividade nem transparência e estão ligados, umbilicalmente, a uma relação histórica com os partidos, aos ciclos políticos e a questões relacionadas com as disputas internas das forças partidárias.
Nada disto nos é estranho. Portugal, nestes aspetos, estará claramente na rota da convergência ibérica. A julgar pelos sucessivos “casos e casinhos”, deste e de anteriores governos (diga-se, em abono da verdade), se aplicarmos o “Dedómetro”, analisando quatro parâmetros – independência; formação; experiência profissional; permanência no cargo – os resultados não nos surpreenderão, afinal de contas, somos ou não somos o país da “cunha” e do “jeitinho”?
Elisa de la Nunez, diretora da Fundação, conclui: “A curva da aprendizagem é feita à custa do contribuinte.” O contribuinte é chamado à pedra, paga, queira ou não. A TAP, a título de exemplo, custa-me, tal como a si, caro (a) leitor (a), cerca de 400,00€, mesmo que nunca tenha viajado de avião ou sequer entrado num terminal de aeroporto.
A sondagem, divulgada pelo Expresso / SIC, realizada pelo ICS/ISCTE, confirma a perceção de que se vive um tempo de descrédito das instituições, com a política à cabeça. 80% dos inquiridos não confiam nos partidos políticos; 87% estão insatisfeitos com o combate à corrupção; 90% considera que a riqueza está mal distribuída; 76% estão pouco ou nada satisfeitos com as oportunidades de progressão de uma pessoa esforçada.
Algo tem que ser feito, se não quisermos assistir ao crescimento de populismos e extremismos. O medo do futuro, o impacto da guerra, o crescimento da inflação, a pobreza sistémica, são terrenos férteis para discursos fáceis e soluções de pacotilha, sem respaldo sólido e conexão com a realidade.
Não podemos deixar que os extremistas, de esquerda ou de direita, sequestrem a política e que se normalizem práticas de desumanização dos oponentes políticos. Sim, precisamos de políticos e de partidos e, felizmente, nem todos são maus, há mulheres e homens com muita qualidade. Temos que, rapidamente, estancar a sangria da “boa moeda”, pelo futuro do país que amamos e do qual nos orgulhamos.