No meio do barulho da campanha eleitoral, passou ao lado a notícia do Expresso de 6 de março que dizia o seguinte: “Os comentadores políticos nas televisões aumentaram 47% nos últimos oito anos, de 53 para 78, a maioria é de direita e apenas um quarto são mulheres …” e ainda “Em 2016, havia uma ligeira vantagem favorável aos comentadores fixos de esquerda (23 contra 22), mas em 2023 a tendência mudou e o predomínio é da direita (37 contra 25)”.
O estudo do MediaLab do ISCTE só vem confirmar o que todos intuíamos. Basta olhar o comentário ao domingo para não haver qualquer dúvida.
Mas estes números não podem ser vistos de forma simples.
Em segundo lugar, o comentário dos que se situam à esquerda deixou de ter atração por parte dos espectadores e dos leitores. Há uma certa melancolia no comentário que oscila entre a nostalgia e o paternalismo e afasta enormes franjas da população. O comentário e a imagem não se podem dissociar, devem atrair pela beleza ou pela excentricidade.
Em terceiro lugar, o comentário no espaço da esquerda democrática esteve muito ligado ao poder. Em 28 anos de vida governativa o PS só interrompeu por sete. Ora, mais do que encontrar formas de construir a mensagem, o que importava era mesmo defender o indefensável.
Assim, olhando para os comentadores, nós não temos à esquerda uma avozinha tão eficaz como Manuela Ferreira Leite, nem um economista tão útil, ao centro, quanto o é o Paes Mamede na esquerda não social democrata.
Se a esquerda moderna quer ter espaço no comentariado deve elaborar na mensagem e na imagem dos que a representam, conseguir que se remunerem em audiência e em likes. Se assim não for, não se pode pedir a quem quer que seja que aceite uns mostrengos que só digam barbaridades.
E há ainda uma outra e relevante questão. Para se ser do espaço do PS não é preciso estar sempre contra a liderança. Isso dá temporariamente o aplauso da direita, mas a prazo promove a desnecessidade do comentador. O que se impõe aos comentadores que possam ser do centro-esquerda é que não criem problemas, sejam pedagógicos e, de preferência, não sejam loucos.
Ascenso Simões