Aceito

Esta página utiliza cookies para melhorar o desempenho e a sua experiência como utilizador mais informação

O comentariado português

Em segundo lugar, o comentário dos que se situam à esquerda deixou de ter atração por parte dos espectadores e dos leitores. Há uma certa melancolia no comentário que oscila entre a nostalgia e o paternalismo e afasta enormes franjas da população. O comentário e a imagem não se podem dissociar, devem atrair pela beleza ou pela excentricidade.

Tópico(s) Artigo

    • 16:08 | Sexta-feira, 15 de Março de 2024
    • Ler em 2 minutos

    No meio do barulho da campanha eleitoral, passou ao lado a notícia do Expresso de 6 de março que dizia o seguinte: “Os comentadores políticos nas televisões aumentaram 47% nos últimos oito anos, de 53 para 78, a maioria é de direita e apenas um quarto são mulheres …” e ainda “Em 2016, havia uma ligeira vantagem favorável aos comentadores fixos de esquerda (23 contra 22), mas em 2023 a tendência mudou e o predomínio é da direita (37 contra 25)”.

    O estudo do MediaLab do ISCTE só vem confirmar o que todos intuíamos. Basta olhar o comentário ao domingo para não haver qualquer dúvida.

    Mas estes números não podem ser vistos de forma simples.


    Em primeiro lugar, a esquerda à esquerda do PS continua a ter no comentário e nas redações dos jornais uma presença muito superior ao seu valor facial. É uma circunstância que se verifica nos países europeus onde a comunicação social continua a ter amplos espaço de liberdade de opinião. Não é por acaso que Portugal está nos primeiros 10 do mundo na liberdade de imprensa.

    Em segundo lugar, o comentário dos que se situam à esquerda deixou de ter atração por parte dos espectadores e dos leitores. Há uma certa melancolia no comentário que oscila entre a nostalgia e o paternalismo e afasta enormes franjas da população. O comentário e a imagem não se podem dissociar, devem atrair pela beleza ou pela excentricidade.

    Em terceiro lugar, o comentário no espaço da esquerda democrática esteve muito ligado ao poder. Em 28 anos de vida governativa o PS só interrompeu por sete. Ora, mais do que encontrar formas de construir a mensagem, o que importava era mesmo defender o indefensável.

    Mas os comentadores do espaço do centro-esquerda também não se dão o cuidado de aprender as técnicas da comunicação. Não raro, assistimos a frases longas, a ideias simples, a fracas provocações que ampliem os comentários em conteúdos suplementares.

    Assim, olhando para os comentadores, nós não temos à esquerda uma avozinha tão eficaz como Manuela Ferreira Leite, nem um economista tão útil, ao centro, quanto o é o Paes Mamede na esquerda não social democrata.

    Se a esquerda moderna quer ter espaço no comentariado deve elaborar na mensagem e na imagem dos que a representam, conseguir que se remunerem em audiência e em likes. Se assim não for, não se pode pedir a quem quer que seja que aceite uns mostrengos que só digam barbaridades.

    E há ainda uma outra e relevante questão. Para se ser do espaço do PS não é preciso estar sempre contra a liderança. Isso dá temporariamente o aplauso da direita, mas a prazo promove a desnecessidade do comentador. O que se impõe aos comentadores que possam ser do centro-esquerda é que não criem problemas, sejam pedagógicos e, de preferência, não sejam loucos.

    Ascenso Simões

    Gosto do artigo
    Palavras-chave
    Publicado por
    Publicado em Opinião