Li, há tempos, numa dessas múltiplas redes com que nos encharcaram o nosso quotidiano, uma frase que ainda hoje guardo e que aqui convosco compartilho.
Não são muitas as frases que ficam, tal a efemeridade da informação nestes tempos de hoje, tempos da designada hipermodernidade em que cada um de nós, não raramente, dá consigo, cada dia que passa, com a pele mais calejada quando se trata de sentir, ler e ajudar os outros.
Dizia essa frase: “O cancro nunca é só de quem o tem”. Hoje fui procurá-la, ao Google, e percebi que era o título de um artigo, de Fernando Leal da Costa, publicado no Observador.
E se me lembrei dessa frase para este texto, é porque quero concordar com ela e dizer-vos que de facto o cancro nunca é só de quem o tem.
É desde logo também da família. Muito da família. Também de quem cuida, sejam médicos, enfermeiros, técnicos ou voluntários. É dos amigos. Muitos dos amigos.
Seja de quem for que seja, o facto é que o cancro é nosso, é de todos, é da sociedade.
E se há, portanto, causas e lutas bem nobres, esta é, estou bem seguro disso, uma delas.
É que, qual de nós pode hoje, aqui e agora, garantir que não tem num dos compartimentos da sua casa, do seu corpo claro está, ainda adormecido ou, quiçá, já bem acordado, um desses hóspedes, qual terrorista silencioso? É que tendo entrado pela porta das traseiras, tendo entrado de cernelha, ele está pronto para se fazer explodir, agora bem de frente!
E a resposta é, ninguém. Ninguém pode garantir que neste momento está livre. Que está imune a tamanho tropel de transmutações celulares. Que não é incubador de tal turba de produção caótica de matéria viva, que poderá servir para, quanto mais ela se reproduzir e mais viva estiver, de seguida, mais depressa nos matar.
Ninguém, pois, está livre.
Todos temos, portanto, que ter consciência desta aleatoriedade. Desta forte possibilidade.
E assim sendo, todos temos que agir. Que trabalhar. Que nos implicar.
É isso que faz a Liga Portuguesa Contra o Cancro. É isso que faz o Núcleo Regional do Centro. É isso que fazem as e os voluntários de Sátão. É isso que fazem tantas e tantos anónimos, por aí, a suão ou a setentrião.
Afinal, é isso que hoje também aqui queremos fazer.
Vamos debater. Sobretudo vamos falar. Vamos falar na primeira ou na terceira pessoa do singular. De uma situação que nos atingiu ou que atingiu alguém que conhecemos.
Mas espero que daqui saiamos a falar na primeira pessoa do plural.
O cancro, de facto, nunca é só de quem o tem! É de todos, é nosso e nós queremos implicar-nos nesta causa.
Obrigado pela vossa presença e agora vamos à partilha.
(*) Acácio Pinto – Texto de abertura do colóquio sobre “Prevenção do Cancro” realizado em Sátão e promovido pelos voluntários da Liga.