Durante a minha infância e adolescência conheci muitos caixeiros viajantes que visitavam a mercearia do meu pai com frequência e uma das características que todos tinham era a sua simpatia, gentileza e amabilidade.
Hoje recordo um, e nele quero homenagear todos os caixeiros viajantes que tanta alegria me traziam quando pegavam no dossier dos produtos e a minha mãe ou o meu pai faziam as encomendas!
Adorava presenciar aquela tarefa e olhar as fotografias de alguns produtos como sabonetes, vernizes e água de colónia, que nunca foram pedidos, mas que eu alimentava a ilusão de que talvez na próxima eles fizessem parte da lista.
O senhor Balsemão vendia tintas que faziam parte do pelouro do meu pai, aqui a minha mãe não dava palpite, mas eu, como sempre colocava-me junto ao balcão com uma grade de refrigerantes por baixo e espreitava aqueles catálogos coloridos e os diálogos comerciais entre os dois homens, vendedor e comprador.
O senhor Balsemão não tinha filhos e era casado com uma senhora muito bonita, segundo a fotografia a preto e branco que trazia na carteira e que fazia questão de mostrar. O Senhor Balsemão era muito simpático e muito gentil e gostava de elogiar e de presentear as pessoas! Um dia estava a minha avó Maria sentada numa tarde de Verão na soleira de uma das três portas da mercearia e esse homem com a alegria e a sensibilidade que cultivava, abeirou-se dela e disse-lhe: Avozinha a senhora tem uns olhos tão lindos! A minha avó fingiu não gostar, não estava habituada a ouvir elogios, nada disse, que como ela dizia às netas, mulher honrada não tem ouvidos, mas eu vi nos olhos dela que a sua alma sorriu!
Este homem gostava de presentear as “suas meninas”, como carinhosamente nos tratava. Trazia chocolates, sugus, bolachas, mas o que mais apreciávamos eram as caixas de biscoitos sortidos que a nossa mãe guardava e que nos dava com parcimónia, gerindo muito bem aquele tesouro doce.
O senhor Balsemão todos os meses nos visitava, houve um mês que não veio, depois outro, até que a triste notícia chegou, o nosso fornecedor de guloseimas tinha morrido num acidente de viação. Naquele momento senti um aperto no coração e um amargo de boca que nenhum biscoito poderia tirar! Até sempre Senhor Balsemão!