O brinquinho e o bailinho da Madeira

Foram ternos e cândidos os olhares que ambos trocaram, antes de caírem nos braços um do outro.

Texto Rebelo Marinho Fotografia Direitos Reservados (DR)

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  • 23:18 | Sexta-feira, 15 de Maio de 2020
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Os políticos são como a comida. Só valem enquanto servem para matar a fome. Depois, passam à miserável condição de descartáveis. Centeno que o diga, que está a ressacar do veneno.

Por vezes, para ocuparem o tempo livre ou para mostrarem do que são capazes, os políticos entretêm-se com diatribes, a que os ínclitos comentadores do burgo lusitano, antes ocupado por moiros, celtas, suevos e visigodos, chamam de “alta política”. Mas que não passam de patifarias e facadas nas costas de quem as tem largas.

Enquanto continuamos com a Covid e o pão começa a faltar em muitas mesas, o triângulo dos “C”, Célito, Costa e Centeno, pôs o país à beira de uma crise política que ninguém, no seu perfeito juízo, iria, nesta altura, entender.


O PM comprometeu-se na AR em como mais nenhuma prestação seria paga ao Novo Banco, sem serem conhecidos os resultados da auditoria, como a “tranche” já tinha sido feita, Costa pediu desculpa ao BE. Depois, o PR, concordando com o PM, tirou o tapete a Centeno. E o PM aproveitou para comunicar ao PR a paixão que sentia pelo mais alto magistrado da Nação, dando como encerrada a questão das presidenciais e suspendendo a democracia interna no partido que se ufana dessa virtude, mas só reclama dela quando lhe calha bem.

Foram ternos e cândidos os olhares que ambos trocaram, antes de caírem nos braços um do outro. Entretanto, Centeno, com punhos de renda e luvas de pelica, desmentia Costa na casa da democracia.

Cada um escolheu o seu lado. E os acontecimentos corriam às mil maravilhas para as três partes. Centeno, agastado, sairia do governo, mas com lugar garantido na rua do Comércio da capital do Império. Costa livrava-se de um homem que, prevendo tempestades, insiste em poupar quando o PM o que quer é gastar. Célito via sair o ministro por quem nunca morreu de amores e ganhava o apoio de Costa para a sua entronização como monarca da República. Acontece que, à noite, Centeno, correndo em pista própria e puxando dos galões de “Ronaldo das Finanças”, pediu a demissão. Soaram os alarmes em São Bento. O PR e o PM desceram à terra e perceberam que tinham ido longe demais. O PR emitiu uma nota, reduzindo a zanga a um “equívoco”.

O pagamento de mais uma prestação a esse proxeneta financeiro, que responde pelo nome de Novo Banco, deu no que deu. No estalar do verniz e no desfazer das amizades. O que resulta de relevante deste jogo de campainhas é que Centeno perdeu o prazo de validade, já não serve e fica a prazo no governo.

Nisto, de se desfazer friamente do que já não tem utilidade, Costa não é aprendiz nem é flor que se cheire. É mestre e professor. Com cátedra própria.

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Publicado em Opinião