Depois de, em 2015, ter sido retirado com vida dos escombros por uma diligente equipa de resgate, na sequência de um terramoto inesperado, António Costa está à porta de um cargo europeu com que sempre sonhou, escondendo mal o desejo, que espreitava pelas frestas de um enfado com os assuntos nacionais.
Se tudo lhe correr bem – e a fortuna não lhe tem sido madrasta – terá pela frente um mandato de 2 anos e meio, renovável por uma única vez. Freitas do Amaral, Durão Barroso, António Vitorino, Jorge Sampaio e António Guterres ganharam-lhe dianteira na disputa de lugares de topo na política internacional, a maioria não deslustrando a jubilosa lusitana reputação, conquistada a pulso pelos nossos “egrégios avós”.
Composto pelos chefes de Estado e de governo nacionais e pelo presidente da Comissão Europeia, reúne ordinariamente 4 vezes por ano, em Bruxelas, para definir a agenda política da UE, identificar questões concretas e preocupantes para o espaço europeu, elencar medidas e objectivos a atingir. Representa o nível mais elevado da cooperação política entre os 27. Dá orientações gerais, fixa prioridades políticas e aborda questões sensíveis e complexas. As suas decisões são normalmente tomadas por consenso. Não tem poder executivo, legislativo ou judicial, os que mais contam. O único que lhe resta, e a não poucos compraz, é o da magistratura de influência, do jogo de bastidores, da diplomacia paralela, da negociação, dos equilíbrios, das cedências.
O Conselho Europeu é o órgão vocal de uma Europa petulante e velha, desenhado para coordenar vontades difíceis de conciliar pela sua natureza contraditória, de muita conversa, de manifestação de intenções, de muito “show-off”, de esquinas e de sombras, de ardis e enganos, de pouco fazer que importe e valha.
E nesse particular, convenhamos que Costa é um artista, até um verdadeiro mestre. Reuniões e mais reuniões, viagens, recepções, convites, anúncios, o fausto dos salões, banquetes oficiais, tudo o espera.
Quanto à vida concreta das pessoas, nada se espere do Conselho Europeu, porque ele não foi fadado para esse fim útil. Considerando as competências do Conselho Europeu, exageradamente descrito por alguns como a “suprema autoridade política da UE”, a sua presidência parece ser um fato à medida do nédio perfil de Costa, agora mais sorridente e tentacular.
Simular, enlear, enrolar, adiar, enredar, iludir, são verbos que calham bem no seu agir. No meio do esplendor e das luzes, sente-se como peixe na água. Mais do que um animal político, é um animal mediático, ávido de luzes e de palco, sedento de tronos, rodeado de um séquito de fiéis. Com indisfarçável orgulho, brio e pundonor, gozará todas as sinecuras e conezias que lhe cabem por direito. De ideias ousadas e originais, que rompam com o marasmo e o pastoso em que a UE dos interesses se consome e dilui, num parece compromisso obstinado internações, dele nada se espere.
E quanto a reformas e impulsos, estejamos tranquilos, também nada dali virá. Tem-lhe alergias.