Neste “Jardim da Europa”…

As Câmaras Municipais que alicerçaram o seu equilíbrio financeiro nas receitas da construção e do imobiliário caíram em situação de descalabro. Saíram goradas as esperanças. As Câmaras ao verem as receitas diminuírem entre 50 a 80 por cento ficaram sem saber como pagar as dívidas contraídas no tempo em que se pensava que as vacas eram gordas e assim iriam continuar.

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  • 13:43 | Sexta-feira, 13 de Agosto de 2021
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Este “jardim da Europa à beira-mar plantado”, como lhe chamou Tomás Ribeiro, em 1862, está num estado de necessidade de investimento, apesar de ser o país europeu com a maior zona económica marítima exclusiva.

Jamais terá sonhado na relevância da sua definição para a compreensão da complexidade do papel de Portugal no Mundo nos últimos 150 anos. O “laranjal em flor sempre odorante” e os seus pomares, como dizia o poeta de Parada de Gonta, foram arruinados por uma política agrícola comum com os agricultores subsidiados até à extinção: acabaram dizimados pelas dívidas e, com elas, o património natural e cultural.

Apesar da nossa dimensão territorial temos mais casas vazias (735.000) do que o Reino Unido (700.000) ou que a Alemanha, quatro vezes maior. Chegamos à conclusão, recorrendo as estatísticas, de que existem 12 milhões de casas vazias em Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Irlanda, Reino Unido e Alemanha, quando há 4 milhões de sem-abrigo na União Europeia.


O jardim à beira-mar plantado está a escorregar para o oceano. Atiramos as culpas uns aos outros. Confundimos agiotas com bandidos. Os ecos das dificuldades financeiras andam por aí e estenderam-se ao modelo de sociedade cujo expoente máximo foi a falência do BES, chame-se agora de “Novo”, “Velho” ou etc. A consciência cívica, cultural e política deteriorou-se. E mais ainda se dissermos que há casas para 30 milhões de habitantes quando não chegamos aos 10 milhões. Fomos incentivados a ver no cimento, no tijolo, na telha e no asfalto a sociedade do futuro. A aposta na cultura, no conhecimento e na inovação foi posta em stand by pelas medidas nos últimos anos. Tudo foi sacrificado à voracidade da especulação imobiliária e bolsista. A sociedade foi encorajada a viver no fascínio virtual duma lógica consumista.

As Câmaras Municipais que alicerçaram o seu equilíbrio financeiro nas receitas da construção e do imobiliário caíram em situação de descalabro. Saíram goradas as esperanças. As Câmaras ao verem as receitas diminuírem entre 50 a 80 por cento ficaram sem saber como pagar as dívidas contraídas no tempo em que se pensava que as vacas eram gordas e assim iriam continuar.

O Fundo de Apoio Municipal e a dita “bazuca europeia” surgem hoje como as tábuas de salvação. É bom que avancem para que as Câmaras Municipais possam cumprir e assumirem-se como agentes de desenvolvimento local.

Num breve parêntesis não resisto a apelar aos futuros autarcas que ainda continuam a falar em “mega-projetos”, sem se dar conta da atualidade, como tivemos exemplos, como os da linha ferroviária “Aveiro – Viseu – Vilar Formoso”.

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Publicado em Opinião