Já não foi a primeira vez. Já antes Nélson insultara e destratara a despropósito Paulo Pichardo. É useiro e vezeiro na embirração que mantém, e cultiva, com o campeão europeu, mundial e olímpico, cubano de origem, naturalizado português. Tal e qual Nélson, costa marfinense, um integrado, segundo os preceitos legais em vigor.
Não esqueço – quem esquece? – que Nélson torceu pelo adversário de Pedro, na última final olímpica, como se o rival fosse da sua equipa. Quem pode entender este revanchismo, este mau perder, este ódio de estimação?
Imagino a raiva que se apodera de quem vê perder-se a grandeza e ofuscarem-se as luzes da ribalta.
Imagino a frustração de quem vê incumprirem-se os objectivos traçados.
Imagino a decepção de os vermos atingidos por outros, que supúnhamos incapazes de tal.
Imagino a insuficiência de nos vermos reduzidos à cara do anúncio de produtos de beleza ou de roupa íntima.
Imagino o peso da queda, da descida do Olimpo à terra chã.
Acontece que a linha de fronteira entre a vaidade e o ridículo é muito ténue e um passo em falso pode deitar tudo a perder.
Sentindo-se inamovível do pedestal onde o mérito e a glória o colocaram, apalhaçou-se nos comentários de fel que em má hora destilou.
Entre dois campeões, está o caldo entornado, sendo agora a vez de Pichardo, rejeitando as pazes, dizer que “agora é tarde para falarmos”.
Sentindo-se só nas críticas que fez a Pedro, talvez Nélson tenha sentido necessidade de fugir dos cutelos de lâminas finas com que o mundo do desporto o cortou, na hora da irritante maledicência .
Para distinguirmos os homens, e sermos justos, veremos como Pedro reagirá quando os músculos lhe mirrarem e tiver de conviver com o fracasso.
(Fotos DR)