Na Igreja, há a árvore e a floresta

Também não lhe faria mal afastar-se da “escolástica” na formação dos seus noviços e, teologicamente, encontrar na realidade que se vive, a humildade e alento para servir os seus fiéis, para ser guardiã do “rebanho” e não o esfaimado lobo arredado da matilha.

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  • 19:16 | Terça-feira, 14 de Fevereiro de 2023
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Muito natural e indignadamente gerou-se um enorme bruáá em torno dos abusos sexuais no seio da Igreja católica.

A história é a mesma de sempre, adultos – neste caso homens da Igreja – a usarem da sua ascendência profissional, tutorial e “moral” sobre jovens menores indefesos, para a prática dos mais asquerosos e obscenos actos.

Não quero crer que a Igreja, em geral, os ignorasse. Outrossim, acredito que se fazia muita “vista grossa” sobre estas abjectas práticas e sobre os seus reiterados praticantes.


A Igreja – e sofre por isso as consequências – a um determinado nível é feudalmente fechada e corporativista. A inovação – que nas suas cúpulas recusam – passou-lhe secular e ostensivamente ao lado.

De forma sussurrada, há muito se ouvia, por portas travessas, falar da pedofilia no seu seio. Porém, durante séculos, a Igreja, em geral postada ao lado do poder regente e vigente era inatacável. Os anos de 1930 a 1974, em Portugal, foram disso cabal exemplo e então se recuarmos para antes de 1910…

Contudo, obrigatório é, por uma elementar questão de justiça, não metermos todos no mesmo saco. No universo clerical da Igreja em Portugal há milhares de padres de imensa lisura moral e competência intelectual alheios a este vil escândalo.

Por isso, a sanha persecutória que hoje se badala por muitos meios da comunicação social e redes sociais, se em geral manifesta o seu direito à indignação, célere entra na “torpice” colectiva dos julgamentos na praça pública.

Evidentemente que os seus alvos se puseram a jeito; naturalmente que as suas inconfessáveis e vis práticas exigem denúncia e justiça… e se hoje, o pedir perdão às vítimas sabe a pouco, também não haverá como as ressarcir plenamente dos atentados de que foram alvo.

Talvez a Igreja careça de uma profunda metamorfose – ela que, em geral conservadora, tanto as receia – e deva mostrar-se mais adequada aos tempos que se vivem, mais humanizada, mais consentânea com as realidades sociais e mutabilidade em curso. Talvez…

Também não lhe faria mal afastar-se da “escolástica” na formação dos seus noviços e, teologicamente, encontrar na realidade que se vive, a humildade e alento para servir os seus fiéis, para ser guardiã do “rebanho” e não o esfaimado lobo arredado da matilha.

Talvez seguir à letra os ensinamentos do Papa Francisco fosse um grande passo para a sua renovação… para já “dar voz ao silêncio” já é sólido um ponto de partida.

Dois meros extractos do longo (486 páginas), minucioso e criterioso relatório apresentado…

 

 

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Publicado em Opinião