Muito natural e indignadamente gerou-se um enorme bruáá em torno dos abusos sexuais no seio da Igreja católica.
A história é a mesma de sempre, adultos – neste caso homens da Igreja – a usarem da sua ascendência profissional, tutorial e “moral” sobre jovens menores indefesos, para a prática dos mais asquerosos e obscenos actos.
Não quero crer que a Igreja, em geral, os ignorasse. Outrossim, acredito que se fazia muita “vista grossa” sobre estas abjectas práticas e sobre os seus reiterados praticantes.
A Igreja – e sofre por isso as consequências – a um determinado nível é feudalmente fechada e corporativista. A inovação – que nas suas cúpulas recusam – passou-lhe secular e ostensivamente ao lado.
De forma sussurrada, há muito se ouvia, por portas travessas, falar da pedofilia no seu seio. Porém, durante séculos, a Igreja, em geral postada ao lado do poder regente e vigente era inatacável. Os anos de 1930 a 1974, em Portugal, foram disso cabal exemplo e então se recuarmos para antes de 1910…
Por isso, a sanha persecutória que hoje se badala por muitos meios da comunicação social e redes sociais, se em geral manifesta o seu direito à indignação, célere entra na “torpice” colectiva dos julgamentos na praça pública.
Evidentemente que os seus alvos se puseram a jeito; naturalmente que as suas inconfessáveis e vis práticas exigem denúncia e justiça… e se hoje, o pedir perdão às vítimas sabe a pouco, também não haverá como as ressarcir plenamente dos atentados de que foram alvo.
Talvez a Igreja careça de uma profunda metamorfose – ela que, em geral conservadora, tanto as receia – e deva mostrar-se mais adequada aos tempos que se vivem, mais humanizada, mais consentânea com as realidades sociais e mutabilidade em curso. Talvez…
Também não lhe faria mal afastar-se da “escolástica” na formação dos seus noviços e, teologicamente, encontrar na realidade que se vive, a humildade e alento para servir os seus fiéis, para ser guardiã do “rebanho” e não o esfaimado lobo arredado da matilha.
Talvez seguir à letra os ensinamentos do Papa Francisco fosse um grande passo para a sua renovação… para já “dar voz ao silêncio” já é sólido um ponto de partida.
Dois meros extractos do longo (486 páginas), minucioso e criterioso relatório apresentado…
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