Mulher sem nome
Tu, mulher sem nome
Que no silêncio e na solidão dos dias
Deixas que as tuas mãos experientes
Tratem meigamente
O corpo enfermo
Do que jaz em dores maiores
Tu, mulher sem nome
Que no silêncio e na solidão dos dias
Deixas que a tua voz entoe um cântico antigo
Doce canção de embalar
Que acalma o corpo enfermo
Dorido de tantas dores maiores
Tu, mulher sem nome
Que no silêncio e na solidão dos dias
Deixas que da tua boca crispada
Saiam ternas palavras de coragem
De uma coragem que sabes não ser possível
Porque as dores maiores
Lascam e trucidam o corpo exangue
Tu, mulher sem nome
Que no silêncio e na solidão dos dias
Empurrando uma cadeira de rodas
Deixas que o som do mármore pisado se misture
Com a melopeia que ecoa na tua cabeça
Pedindo cura e paz
Tu, mulher sem nome
Que no silêncio e na solidão dos dias
Atendes um telefonema longínquo
Apercebes-te de uma mensagem rápida
Questionando sobre o devir do corpo enfermo
Nunca te perguntam, mulher sem nome
Pelo sangramento constante da tua alma
Não é preciso
Tu está sempre lá
Calada com as mãos tratando e afagando o corpo dorido
Tu, mulher sem nome
No silêncio e na solidão do dia fatal
Ao alívio inconfessado alias o desespero lancinante
De quem vê o colo vazio
Agora que o corpo enfermo descansou
Podes seguir o teu caminho, dizem
Que caminho, interrogam teus olhos cansados
A ti, mulher sem nome
Minha irmã
Quero agradecer e compartilhar
As lágrimas reprimidas
As dores não partilhadas
Na solidão e no silêncio dos dias
Dia internacional de Mulher de 2022