Desde há anos que acalento a vontade (ou será necessidade?!) de escrever sobre mulheres. Porquê sobre mulheres? Porque sou mulher e adoro ser mulher! E todos os dias agradeço à mãe natureza o ter permitido que todos os acasos se conjugassem, para que naquele preciso momento um espermatozóide X do meu pai fecundasse o óocito maduro da minha mãe.
Da união destas duas células formou-se uma única célula que transportava no seu conteúdo genético todo o projecto para que eu nascesse mulher, e me transformasse na mulher que hoje sou. Foi a partir desse momento mágico e de comunhão plena que todo o meu futuro e o futuro de todas as mulheres é traçado. Com esse cromossoma X que a natureza permitiu que o meu progenitor gentilmente me cedesse, começou o meu ciclo de vida, ainda dentro do útero da minha mãe, ao formarem-se os meus folículos ováricos primários que passados doze anos já plenamente amadurecidos levaram ao aparecimento da minha menarca e passados vinte e seis anos desde que eu era apenas uma célula, permitiram também que eu gozasse a oportunidade única de ser mãe.
Quero agradecer também a esse bendito cromossoma X o incomodo de todos os meses conviver pacificamente com o sangue (sinónimo de vida) de uma forma tão adulta mesmo quando não passava de uma jovenzinha de doze e treze anos, de ter tensões pré menstruais que me deixam completamente alterada, enfim de circularem no meu corpo as hormonas que me transformam diariamente e durante toda a vida.
Agradeço ao meu querido cromossoma X cedido pelo meu pai, a alegria de estar grávida, os enjoos, a barriga a crescer, as dores de parto e todas as alegrias e tristezas que me acompanharam ao longo do meu tempo de ser mulher.
Sou uma observadora de situações e de pessoas e muitas vezes divirto-me a olhar uma mulher e a tentar adivinhar a sua história. Algumas destas histórias já as escrevi mentalmente nas viagens que faço sozinha e nas minhas incursões solitárias pela minha Serra da Nave, que tem formas de corpo de mulher. Quando isto me acontece chego ao ponto de analisar se devo trocar determinado ponto final por um ponto e vírgula.
Assim, tenciono se o tempo e a imaginação não me faltarem, escrever sobre as mulheres da minha vida, as reais e as que resultam da imaginação de uma mulher, que tem muito prazer de o ser.
Ondina Freixo