Falamos muito sobre migrantes. Vemos muitas imagens de fotos e de vídeos sobre a sua chegada à Europa. Percebemos que chegam aos milhares, todos os dias. Entendemos que se despojam de tudo quanto têm para cá chegar. Que enfrentam todos os perigos, frequentemente homens, mulheres, mulheres grávidas e crianças. Fogem dos seus países que nada têm para lhes dar senão fome, guerra, radicalismo(s), ódio, violência, submissão, repressão e supressão.
Quantos aos países de onde são oriundos, são estados entregues, na sua maioria, a todas as calamidades, nas mãos de hordas e de falanges bestializadas, em busca do poder, da riqueza, da ganância, do despotismo que lhes permite, pela força e pelas armas, a repressão para atingirem seus hediondos fins.
Esses países e os governos que os trucidam e aos seus povos deveriam responder pelas atrocidades que cometem, pelos genocídios que praticam, pelo fundamentalismo que semeiam.
Hoje há no mundo mais de 150 milhões de migrantes, num total de 6 mil milhões de habitantes do planeta. Na Europa foram recebidos 996 mil pedidos de asilo em 2022. Mais 4 milhões de ucranianos fugidos da invasão pela Rússia do seu país. Maioritariamente são oriundos da Síria, do Afeganistão, da Turquia, da Venezuela, da Colômbia.
Para lá dos pedidos de asilo há a migração clandestina de países como a Índia, Paquistão, Nepal, Marrocos, Argélia, Tunísia, Sudão, Togo, Somália, Mauritânia, Mali, Níger, Chade, Etiópia, etc., etc.
Esta realidade não se resolve com a “guetização” de quantos chegam. Mas os milhares que diariamente conseguem chegar não são absorvidos pelos países onde conseguem entrar. O problema desmesura-se sem integração à vista. A Comunidade Europeia dos 27 não fala a uma só voz e tem-se demonstrado incapaz de encontrar soluções para este seriíssimo problema. Tem-se empurrado para diante, com a barriga, muitas das vezes fechando-se os olhos ao problema, nas suas causas e efeitos mais amplos e prementes.
Hoje, o Mar Mediterrânico é o maior cemitério do planeta. Há milhares de “passadores” clandestinos a enganar milhares de migrantes com promessas vãs, que não correspondem ao real, espoliando-os de todos os seus parcos bens, transportando-os às centenas em barcos onde não cabem dezenas, sem quaisquer condições, abandonando-os frequentemente, à deriva, no mar alto e pondo-se em fuga em lanchas super-rápidas. Estes são uma parte dos adjuvantes desta maciça migração.
Mas mais criminosos serão os governantes dos seus países de origem, incapazes de criar condições de vida humanizadas, apregoando o ódio e o radicalismo, privando das mais ínfimas condições de vida os seus povos. E por detrás deles, assazmente, estão os senhores da guerra, que vão dos EUA à Rússia, passando por outros abutres mais discretos, que fornecem armamento e exploram os recursos desses países e agora se indignam com clamor por aqueles que chegam em fuga às suas fronteiras.
Este problema é prioritário. A voz do Papa Francisco, que visitou Marselha, porto de entrada, mas não a França, o que quer que isto signifique, ainda teve que levar com o braço dado da hipocrisia de Macron, aproveitando as circunstâncias para captar simpatias políticas num momento em que, internamente, tem o país dividido e, em algumas cidades, a ferro e fogo. Mas a voz de Francisco, por mais que ecoe, ricocheteia na muralha da incapacidade e da indiferença dos 27.
Este caldeirão ebuliente transborda. O que dele transvazar terá a força de um poderoso tsunami…
(Fotos DR)