Em tempo lembro-me de uma parede onde a velha tabuleta, com os dizeres: “É prohibido afixar cartazes n´esta propriedade” não servia de nada. Ou eram cartazes de papel colados nas paredes que ali permaneciam durante meses até a chuva os desfazer. Mais tarde vieram os graffitti, popularizados, em 1970, por um jovem grego, Demetrius, residente em Washington, cuja alcunha era Taki 183 e muito ligados à cultura hip-hop e aos disc jockeys Afrika Bambaataa e Kool Herc.
Nessa época havia pichagens, que eram letras horrorosamente desenhadas, com sprays de tinta que danificavam edifícios, por vezes até monumentos nacionais e infelizmente ainda hoje isso acontece. Através das pinturas com sprays em muros, os jovens iam (ou vão, não sei) criando grupos organizados, delimitando territórios e caminhando para a marginalidade.
A matéria é delicada. Os fãs dizem que o graffiti é uma forma de arte e não um crime, uma forma de os jovens se afirmarem. Se não o fizessem desse modo, recorreriam a meios piores mas o facto é que mesmo os países mais liberais tendem a condenar esta prática.
A capacidade de correr à frente dos polícias é uma qualidade tão importante como a habilidade para usar os sprays de tinta. A tentativa de solução foi a de utilizar muros livres e o resultado não podia ser pior. Bairros inteiros ficaram repletos de graffiti. Uma alternativa, no Canadá por exemplo, foi o das pinturas apenas serem autorizadas em painéis de teflon especialmente fornecidos para o efeito. Esta iniciativa, sim, foi bem sucedida.
Até que um dia chegou a Viseu o “imersivo da urbe, vendedor de ilusões, decorador de chavões e pintor de sonhos” e logo tratou de vender aos parolos provincianos das terras de Viriato e Vissaium a arte nobre de pintar as paredes com o recurso ao orçamento camarário.
É assim uma cena mais “in” que o Gonçalo Loureiro, redator na empresa , teme “que se tenha aburguesado nos últimos tempos para os lados de Viseu, para cair no goto do poder político e beneficiar dos subsídios necessários para viabilizar a realização do seu festival e não causar desconforto nas ruas da cidade.”
O que hoje se promove na urbe estoirando verbas avultadas do erário público já não é felizmente o grafitteiro fugitivo do spray mas também não é o criativo amador, até porque em Viseu já foi gerado um ecossistema empreendedor de profissionais à volta destas questões da Street Art com o patrocínio do vereador que por este andar vai acabar por mandar fazer não uma pintura mural mas sim uma estátua sua na Praça.
Com o dinheiro dos contribuintes e a minha criatividade também eu pintaria a cidade toda, começaria era pelos abandonados bairros sociais. São critérios, tal como a arte, discutíveis. Uns gostam de ter os pés assentes no rés do chão preocupados com o futuro, outros com o dinheiro público gozam o presente nas festas do sobrado!