Mandatada

Eu, leigo na matéria, ouço a toda a hora que “há dinheiro a mais a circular na economia”, que isso se deveu aos apoios dados durante a pandemia e ao aumento dos preços “por causa da guerra” e que, portanto, é preciso encarecer o preço do dinheiro, retirar o “excesso” de circulação, para as pessoas – más e mal intencionadas que são, não o “desbaratarem em vinho e semelhantes” (na visão liberal holandesa da coisa).

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  • 11:25 | Quinta-feira, 29 de Junho de 2023
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Christine Lagarde veio recentemente a Sintra avisar que vai continuar a subir as taxas de juro. Garante a presidente do Banco Central Europeu que “é tempo de os Governos recuarem nos apoios” anuncia novo aumento de juros para final de Julho e, afiança, que “é provável que volte a acontecer em Setembro”, e, como convém a esta malta poderosa, “a presidente do BCE não se compromete”.

E como estes tipos de discursos carecem sempre de um déjà vu, Lagarde rematou com uma “preocupação” com a “espiral inflacionista” provocada, segundo a poderosa, pelo aumento dos salários. Isto ao mesmo tempo que o BCE nos garante que os “salários irão subir 14% até 2025 e a inflação 20% (havendo, pelo menos, uma perda de 6% – esperaríamos quase todos que fosse só isso).

Estando o BCE mandatado pelos estados (é pelos estados, não é?) para preservar o poder de compra e controlar a inflação na Zona Euro, não deixa de ser espantoso que este controle da inflação consista apenas e só sobre a disponibilização de dinheiro às pessoas (e empresas, consequentemente). Eu, leigo na matéria, ouço a toda a hora que “há dinheiro a mais a circular na economia”, que isso se deveu aos apoios dados durante a pandemia e ao aumento dos preços “por causa da guerra” e que, portanto, é preciso encarecer o preço do dinheiro, retirar o “excesso” de circulação, para as pessoas – más e mal intencionadas que são, não o “desbaratarem em vinho e semelhantes” (na visão liberal holandesa da coisa).

 


Mas, se assim é, se há “dinheiro em excesso em circulação”, se o “aumento dos salários” (abaixo do aumento do custo dos bens), põe em marcha a “espiral inflacionista”, porque razão é que o incremento dos juros, que aumentam o custo do dinheiro, só são mexidos de um lado da barricada?

Se aceitarmos a visão de Lagarde, do BCE e dos estados que o suportam (são os estados, não são?), então porque não actua o BCE de outra forma? Em vez de subir as taxas de juro para que os bancos cobrem mais aos cidadãos que precisam de dinheiro, porque não sobe o BCE as taxas dos depósitos a esses mesmos cidadãos (em alternativa podia, por exemplo, criar uma espécie de Certificados de Aforro europeus em que a taxa de juro era aquela que define para a banca)?

Se assim fosse, se as pessoas tivessem forma de colocar algum dinheiro de parte em depósitos bem remunerados, o efeito não seria semelhante? Não retiraríamos o tal “dinheiro em excesso” em circulação e não gastaríamos “à bruta” divisas em tudo e mais alguma coisa, obrigando os preços a baixar?

O que nos vale é que aqui pelo “jardim à beira mal plantado” o Governo reforçou os juros nos instrumentos que tem para manter a divida pública nas mãos dos seus cidadãos e obrigou os bancos a subir a taxa dos depósitos. Foi isso não foi?

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Publicado em Opinião