Luís, o Milagreiro

O milagre de Montenegro, com prazo de validade à vista, consistiu em tudo prometer e pouco ou nada fazer, reunindo com sindicatos divididos, optando por negociar com os mais dóceis, em suma, tirando da rua a contestação e acenando de longe com um chupa-chupa, criou expectativas que todos os sectores esperam com justa ansiedade ver correspondidas a breve trecho.

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  • 13:07 | Quarta-feira, 31 de Julho de 2024
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Ciclicamente aparecem na política caras novas com distintas formas de agir, o que pode representar sempre uma lufada de ar fresco ou um sopro bafiento. E ainda bem, pois não estamos na Venezuela, nem na China, nem na Rússia, nem na Coreia do Norte… onde os líderes políticos são eternos.

Luís Montenegro faz-me lembrar Robert Bedford no filme “The Horse Whisperer” (1998) em Portugal com o título “O Encantador de Cavalos”.

Com o respeito pelas devidas proporções e contexto, Robert Redford faz milagres na recuperação do irrecuperável. Neste caso de um cavalo tornado irascível e violento fruto de um terrível acidente sofrido.

O XXIV Governo Constitucional tomou posse no início de Abril de 2024, ou seja, há aproximadamente 4 meses. Encontrou um país sectorialmente revoltado e em guerra aberta com o governo, fruto de uma obsessão com o déficit, uma intransigência negocial e péssima política de alguns dos ministros de António Costa, como, por exemplo, o da Educação.


Eles eram as forças de segurança, os militares, os oficiais de justiça, os médicos, os professores, a administração pública, et al.
Perante tal cenário, o primeiro-ministro e os seus ministros com todos reuniram e a todos prometeram tudo e, num ápice, esvaziaram as reivindicações, no seu geral.

O milagre de Montenegro, com prazo de validade à vista, consistiu em tudo prometer e pouco ou nada fazer, reunindo com sindicatos divididos, optando por negociar com os mais dóceis, em suma, tirando da rua a contestação e acenando de longe com um chupa-chupa, criou expectativas que todos os sectores esperam com justa ansiedade ver correspondidas a breve trecho.

Os militares estão satisfeitos. As forças de segurança, apesar dos 300 euros recebidos, estão descontentes. Os professores ameaçam ir para a luta já no início do próximo ano escolar, em Setembro. Os médicos recusam as propostas do governo e fazem greves. Os outros aguardam o cumprimento das promessas. O cenário não é positivo.

Recordemos que essas promessas foram bandeira da campanha e dos discursos eleitorais. Há pois que as cumprir, mas com efectividade e clareza e não com esoterismos e práticas encantatórias que podem dar para recuperar cavalos feridos mas não enganarão muito mais tempo as classes em luta pelos seus direitos salariais e de dignidade profissional.

Em boa verdade, este governo está em funções há apenas quatro meses. Há pois que lhe dar tempo para honrar a sua palavra, efectivar as suas promessas e calar os seus detractores com factos irrefragáveis.

Lembremos ainda que o último milagre ocorrido em Portugal, foi em Fátima, em 1917…

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Publicado em Opinião