“Levar o país a sério!”

O título desta crónica, “Levar o país a sério!” foi retirado do lema da XIII Convenção do BE. Um lema bem achado, numa altura em que o governo e algumas autarquias parecem ser palco de comediantes pouco profissionais, sem brilho, nem réstia de imaginação, que se servem do público (bens e serviços) para o seu próprio benefício ou dos seus clãs. 

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  • 11:16 | Quinta-feira, 08 de Junho de 2023
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António Costa esforçou-se, a partir de 2019, por acabar com a “geringonça”, o apoio parlamentar que lhe permitiu, em 2015, a maioria necessária para chegar a primeiro-ministro, apesar de o PS ter tido menos votos do que a direita, e que constituiu um alento de esperança para a maioria dos portugueses vítimas da austeridade da Troika e dos governos de direita, que, assim, viram a sua vida a começar de melhorar.

Para Costa, a “geringonça” só serviu como trampolim para o poder e foi colocando o PS a sabotar as negociações com os partidos à sua esquerda, ignorando as suas propostas e chegando à deselegância de os designar como “empecilhos”.

Chegados ao Orçamento de Estado para 2022 (OE22), o BE (que até tinha viabilizado o Orçamento Suplementar que já tinha merecido o voto contra do PCP), viu-se confrontado com a irredutibilidade do PS em negociar com os partidos de esquerda.


Perante uma proposta de OE22 que não dava a mínima resposta aos principais problemas do país, como sejam a defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), investindo em cuidados de saúde de qualidade e na dignificação dos seus profissionais, tal como na dignificação dos profissionais da Educação, investindo e protegendo a Escola Pública; para além de não garantir direitos fundamentais consagrados na Constituição da República, como a Habitação (subjugada à mais liberal especulação imobiliária, que ainda hoje o governo não consegue ou não quer controlar), o direito a uma vida digna e ao trabalho com direitos, os partidos de esquerda não tiveram outro remédio senão, em coerência, votar contra.

O PS podia ter apresentado outro Orçamento susceptível de ser viabilizado pelos partidos de esquerda, mas, com o beneplácito de Marcelo, preferiu apostar nas eleições que, com a ajuda de sondagens que ameaçaram com uma falsa bipolarização com a direita e a extrema-direita unidas, lhe deu a maioria absoluta.

Esse medo da extrema-direita tem sido alimentado por Costa e Santos Silva como um seguro contra uma eventual subida eleitoral do PSD e da esquerda, com a preciosa colaboração da cobarde sonsice de Montenegro.

Mas, se o perigo da extrema-direita é real, em Portugal, como noutros países europeus, desde logo, aqui ao lado, nalgumas regiões de Espanha, a verdade é que o que tem vindo a alimentar o populismo desses partidos racistas, xenófobos e homofóbicos com o rabo fascista de fora, tem sido sempre a política dos partidos do centro e da direita, com a sua endémica corrupção, nepotismo, tráfico de influências e incapacidade de produzir políticas para melhorar a qualidade de vida dos mais pobres e até da classe média, em vez de apenas satisfazer os grandes interesses instalados.

O caso “Tutti Frutti”, ao revelar os alegados acordos entre PS e PSD nas eleições autárquicas de 2017, para trocas de lugares e avenças, é bem demonstrativo desse “baile mandado” do “centrão” (“Ora agora mandas tu/ Ora agora mando eu/ Ora agora mandas tu/ mandas tu mais eu!”).

 

Como escreveu Miguel Guedes, no JN de 29.05.23, “As suspeitas que recaem sobre Fernando Medina em pelo menos cinco processos do Ministério Público, na altura em que era presidente da Câmara de Lisboa, vão para além de alegados crimes de corrupção, abuso de poder, participação económica em negócio, financiamento proibido de partidos e prevaricação de titular em cargo público. Assemelham-se a rotinas.” Foi a incompetência autárquica de Medina que levou ao desastre para Lisboa de um Moedas contrafeito.

Outro exemplo é a profusão de casos escandalosos, de demissões, mentiras e uso abusivo do SIS  que têm vindo a ser escrutinados no inquérito parlamentar à TAP proposto pelo BE. Costa, provavelmente, até já deve ter pensado que com tantos incompetentes, “trapalhonços” e empecilhos no seu governo, mais valia ter continuado a negociar com os “empecilhos” de esquerda. Mas tudo isto é apenas o resultado da arrogância da maioria absoluta, da sensação de impunidade de quem menospreza o escrutínio democrático da oposição.

O título desta crónica, “Levar o país a sério!” foi retirado do lema da XIII Convenção do BE. Um lema bem achado, numa altura em que o governo e algumas autarquias parecem ser palco de comediantes pouco profissionais, sem brilho, nem réstia de imaginação, que se servem do público (bens e serviços) para o seu próprio benefício ou dos seus clãs.

A eleição de Mariana Mortágua para coordenadora do Bloco, uma deputada que já deu sobejas provas de competência técnica e coragem política, nomeadamente ao desmascarar a incompetência de gestores pagos principescamente e a soberba criminosa dos “donos disto tudo”, é um enorme factor de esperança para o reforço de um partido de esquerda ainda jovem, mas herdeiro de uma longa história de lutas heróicas pelos ideais socialistas, pela liberdade e igualdade, pela emancipação dos trabalhadores e de solidariedade com os mais discriminados (mulheres, pessoas LGBTI+, imigrantes, minorias étnicas, desempregados e trabalhadores precários), por uma vida digna e justa para toda a gente, pelo respeito pelo ambiente e a natureza, pela paz entre todos os povos livres da opressão e das guerras inter-imperialistas.

Enfim, um partido que nunca deu o corpo pela alma, firme face ao racismo, à xenofobia e às ameaças fascistas. Um partido sério que leva o país a sério!

 

 

(Cartoon Carlos Vieira)

 

 

 

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Publicado em Opinião