O distrito de Viseu continua sem ter um único deputado de esquerda. Refiro-me aos partidos à esquerda do PS, já que este se arruma ao centro depois de uns pequenos desvios pelo centro esquerda. Costa a puxar Rui Rio para o centro dos debates televisivos já deu origem a uma subida do PSD nas sondagens. Costa fez de tudo para desmantelar a “geringonça” (recusando discutir até a reposição dos direitos laborais retirados pela Troika, quando ele próprio tinha criticado o PS de Seguro por não ter votado contra) e arriscou eleições antecipadas no intuito de obter maioria absoluta, coisa que os portugueses não querem repetir depois do cavaquismo e do socratismo de má memória, como se tem visto pelas sondagens.
Décadas de rotativismo entre governos do PSD e do PS que é que trouxeram para o distrito de Viseu? Ficámos rodeados de universidades públicas (Aveiro, Covilhã, Vila Real), enquanto por cá se apoiava a implantação de privados (Univ. Católica e Piaget) com propinas proibitivas; aceitámos de Cavaco uns IP3 e IP5 assassinos e portagens nas “SCUT” A25 e A24 (há 10 anos), enquanto o PSD reivindicava uma autoestrada para Sul com portagens, em vez da solução mais lógica e económica: o alargamento em perfil de autoestrada do IP3 em 85% do seu percurso, sem portagens, que o governo PS encetou mas que deveria ficar pronto em 2024 e só ficará em 2026.
Este atraso mereceu a aprovação por unanimidade de uma moção apresentada pelo BE na Assembleia Municipal de Viseu, em 20.12.2021. Continuamos sem a ferrovia entre Aveiro e a Linha da Beira Alta, em Mangualde, passando por Viseu, que nos ligaria à Europa, prometida desde 2003. As obras em curso nas Linhas do Norte e da Beira Alta (Ferrovia 2020) que deviam ter terminado em Setembro de 2021, estão com 3 anos e meio de atraso. E nem João Azevedo, enquanto presidente da Câmara de Mangualde, nem Almeida Henriques, enquanto edil de Viseu, deram um passo para cumprirem o que ambos se comprometeram publicamente, no debate promovido pela Proviseu, de promoverem a ligação, por (mini)autocarro, da Central de Mobilidade de Viseu à Estação da CP de Mangualde, através da A25, nos horários dos comboios “intercidades”, como tem vindo a ser defendido pelo BE há mais de uma década, enquanto não se concretiza melhor solução.
Recordo que já há muitos anos que os viseenses vêm reclamando a instalação de um Centro Oncológico no Centro Hospitalar Tondela Viseu. No entanto, Almeida Henriques, chegou a anunciar, na Assembleia Municipal, com enorme júbilo, ter garantias por parte do governo de que a unidade de radioterapia viria para Viseu… para o Hospital da CUF. Quando o interpelei, recordando um estudo que apontava o Centro Hospitalar Tondela-Viseu como o mais bem preparado na região centro para receber aquele serviço, respondeu que tanto lhe fazia que viesse para um hospital público como para um privado, desde que o Estado pagasse a conta dos utentes. Ora, os utentes acabam sempre por pagar mais. Se não for directamente, será por via dos impostos. Pelo simples motivo de que os privados investem na saúde, não por altruísmo, mas para ter lucro. O responsável pela estratégia nacional para o cancro chamou a atenção para o facto de que nas unidades privadas não há a mesma acessibilidade para todos: “A apólice de seguro ou a capacidade económica de cada doente acaba por ser decisiva e não raras vezes há necessidade de terminar no SNS o que se começou no hospital privado. Continuamos a ter problemas significativos de doentes a quem se lhes acaba a capacidade financeira e vêm para o SNS, às vezes já em fases terminais”.
Mas a direita, do PSD à Iniciativa Liberal (IL), continua a propor o investimento público nos hospitais privados para que estes continuem a tirar lucros fabulosos. Como disse um dia a responsável pelo BES Saúde, “melhor negócio do que o da Saúde, só o das armas!” O IL até defendia que os alunos do ensino superior pudessem estudar nas universidades privadas, sendo as elevadas propinas pagas pelo Estado de quem ficariam devedores até aos 50 anos de idade, mas Cotrim de Figueiredo, confrontado pela esquerda, acabou por reconhecer que tal nunca seria praticável em Portugal.
Também o PAN continua sem se definir, ao oferecer-se, como a carochinha, para casar com quem der mais. Como se fosse igual governar à esquerda ou à direita. Apoiar um governo de centro esquerda, apoiado pelos partidos de esquerda que defendem o SNS, a Escola Pública, os direitos de quem trabalha, salários e pensões dignas, ou apoiar um governo da direita, à mistura com partidos neoliberais e a resvalar para a extrema-direita, que querem privatizar tudo o que der lucro neste país, ou mesmo com o apoio de partidos assumidamente racistas e xenófobos, como nos Açores. Mas já nada me surpreende, desde que ouvi a candidata do PAN por Viseu a defender uma autoestrada para Coimbra, como se a alguém que diz defender o ambiente não lhe servisse a duplicação do IP3 em 85% do percurso. Já na campanha autárquica o candidato Chiquelho tinha dito que a reabilitação do edificado no Centro histórico de Viseu só serviria aos idosos e nunca aos jovens por não terem garagens. Como se não houvesse cada vez mais jovens que defendem o ambiente e optam por andar de transportes públicos, de bicicleta ou a pé. Tenho dois filhos com mais de 30 anos e nenhum deles quis tirar a carta de condução, apesar de eu ter insistido na sua utilidade. Mas eles defendem o ambiente. Ah, pois é, e são de esquerda!
Já é tempo de o distrito de Viseu eleger um(a) deputado(a) de esquerda que tenha provas dadas na defesa das populações, a quem possamos pedir contas, olhos nos olhos, e que rompa com este “rotativismo” do Bloco Central gerador de compadrio, nepotismo e corrupção. E o partido de esquerda que nas últimas legislativas ficou mais perto de eleger pelo nosso distrito foi o Bloco de Esquerda que ficou a uns escassos 1.752 votos para ter um deputado (o último eleito teve 15.708 votos e o BE obteve 13.956).
Além do mais, manter o BE como terceira força no distrito e no país representará uma derrota para as pretensões da extrema-direita racista de Ventura que não tem uma proposta para acabar com os “offshores” (paraísos fiscais) por onde os ricos fogem aos impostos (por isso ficam cada vez mais ricos!), mas faz dos pobres e dos imigrantes o inimigo público, quando apenas 2% da população recebe o RSI e 1 em cada 3 beneficiários são crianças (Portugal tem cerca de 2 milhões em risco de pobreza, incluindo quase 10% dos trabalhadores) e por todo o Mundo, de Portugal à Austrália, passando pela França, Alemanha e Japão, os governos e os empresários afirmam que precisam de muitos mais trabalhadores imigrantes face à escassez de mão-de-obra nacional.
(Foto DR)