É notável o ganho e a perda de interesse jornalístico por parte dos órgãos de comunicação social relativamente a certos assuntos que ora abrem telejornais, ora até nas notícias da madrugada deixam de aparecer.
Quererá isto dizer que o assunto se esgotou? Não, o assunto continua em aberto e por vezes sem solução à vista, porém, deixou de ter interesse porque deixou de ter público. O público cansou-se e, na maior parte das vezes, nem sequer está minimamente interessado em ir ao fundo das questões, apenas se focando na novidade fresca, principalmente se carrear consigo um escândalo social.
Três exemplos possíveis: O caso Isabel dos Santos, o caso dos refugiados sírios, o caso Espírito Santo. Algum deles está resolvido? Claro que não. Mas já ninguém quer saber, esgotada que foi a novidade do momento
É perversa esta relação e evidencia também outra realidade: a maior parte dos mass media visam tanto a sua sobrevivência como o rigor da informação que veiculam, conhecedores da realidade dos seus leitores, dos seus telespectadores, dos seus ouvintes. E sabem que precisam de sobreviver para informar e por isso… aceitam e rendem-se às regras do mercado.
Sobre os jornais diários escreve Umberto Eco: “Para se semanarizarem aumentam as páginas, para as aumentarem lutam por publicidade, para terem mais publicidade aumentam posteriormente as páginas e inventam os suplementos, para ocupar todas essas páginas têm de contar qualquer coisa, para contar têm de ir além da notícia seca (que, de resto, já foi dada pela televisão), e assim vão-se semanarizando cada vez mais e têm de inventar a notícia, e transformar em notícia o que notícia não é.”*
*Eco, Umberto, Cinco Escritos Morais, 2016, Relógio d’Água