Sobre o radioso mundo cibernético, tecnológico e muito robotizado?
Pois que sim.
Que sim que vai ser maravilhoso, o mundo da Inteligência Artificial.
Caminhamos alegremente para a destruição massiva de postos de trabalho, empurrando hordas de pessoas para a miséria com um sorriso estúpido nos lábios – é o progresso, é o amanhã radioso!! É o caminho inexorável. Até batermos numa parede de cimento chamada realidade…
Foi assim com a obstinação terapêutica – pela qual se prolonga, através de meios artificiais e desproporcionais, a vida de um doente incurável.
Foi assim com a agricultura intensiva – ziliões de químicos e práticas insanas para produzir mais e mais depressa.
É assim com quase tudo a que chamamos “progresso”.
Mais cidades, mais pessoas por metro quadrado, mais horas de trabalho, mais coisas produzidas em menos tempo, mais tarefas, mais dinheiro e mais dívidas, mais dinheiro e mais dívidas, mais dinheiro e mais dívidas, mais dinheiro e mais dívidas, mais dinheiro e mais dívidas, mais, mais, mais, muito, muito, muito mais!
As pessoas, cada pessoa, fica pelo caminho.
O mundo enlouqueceu. Desorganizou-se. Afastou-se da dimensão humana.
Encerrado em labutas diárias feitas de aço e vidro, o homem esqueceu-se que o dia nasce e morre. Que não se fabricam trinados de pintassilgo, embora se possam forjar.
Que morrer sozinho num hospital não é permutável por todos os negócios de milhões de euros feitos na vida.
Que a solidão do trabalho é uma consequência, não uma causa da nossa loucura colectiva.
Quando foi que perdemos o rumo?
Quando foi que achámos que a tecnologia podia substituir a relação, o abraço, a presença, o olhar?
Quando foi que saímos de perto do único relógio que interessa, o sol e a lua?
Quando foi que ficámos a olhar para o espelho de cabeça entre as mãos a perguntar como chegámos aqui?
Há um travão universal para a loucura, um antídoto lento, forte, minucioso e que não falha.
Chama-se reflexão crítica, aquela coisa que não se ensina na escola, nem em muitas casas.
Dá um trabalho inimaginável.
Então, mas se nos dizem que a Inteligência Artificial é tão boa, e vão ser dizimados milhões de postos de trabalho, é tão boa para quem?
Cada vez que nos tentam convencer de alguma coisa, esta pequena pergunta inocente é um bom amuleto:
– Isto é bom para quem?
O encarniçamento terapêutico é bom para quem?
A Ética, essa defunta do esquecido estudo da Filosofia é a luz aprisionada na lanterna que fura a escuridão do Tempo. Está em extinção acentuada, talvez mantida como pequena chama bruxuleante em pequenas cavernas remotas, guardadas pelos últimos homens pensantes.
Enquanto isso, o mundo prossegue atordoado, dopado, insano, violento e sem sentido.
E isso é bom para quem?