Imagine que se sente mais frágil, menos autónomo, tem falhas de memória e algumas dificuldades de orientação espacial-temporal.
Imagine que não sabe em que mês e / ou estação do ano se encontra.
Imagine que, uma vez por outra, perde a noção do local onde está e um dia tem que pedir ajuda para regressar a casa…
Imagine que se esquece do nome do seu neto, não conhece a sua esposa e ao olhar-se ao espelho não se reconhece, pensa que tem um estranho em casa, assusta-se ou torna-se agressivo… Pensa, deve ser o “tipo” que“rouba” as minhas coisas…. ou, bem, talvez seja o amante da minha mulher….
Imagine que os seus familiares decidem institucionalizá-lo num lar, sem o consultarem…
Imagine que numa das, cada vez mais escassas, visitas ao lar, os seus entes queridos o levam a um notário e, ludibriando tudo e todos, conseguem apodera-se dos seus bens patrimoniais…
Imagine que o seu quotidiano no lar é todo organizado e controlado por uma terceira pessoa, sem o consultarem, sem conhecerem a sua história de vida, os seus gostos e os seus interesses…
Imagine que tem que acordar, tomar banho, vestir-se, tomar o pequeno almoço, sempre à mesma hora, dia após dia, mês após mês, ano após ano…
Imagine que passa a tomar banho uma vez por semana…
Imagine que pede para o levarem à casa de banho e lhe respondem que não têm tempo e que deve fazer na fralda…
Imagine que o sentam a ver televisão, horas a fio, e os emissores da mensagem que recebe passivamente são o Goucha e a sua partner Cristina Ferreira….
Imagine que, todos os dias, desde que acorda até que se deita, ouve diálogos sem sentido, gritos, frases descoordenadas…
Imagine que o jantar é servido às seis da tarde…
Imagine que a sua companheira de sofá passa os dias a tentar dar comida a uma boneca e a falar com ela…
Imagine que passa a tomar um comprimido igual ao do seu colega de quarto que, segundo lhe disseram, tem Alzheimer…
Imagine que os seus filhos prometem visitá-lo regularmente e só o fazem uma vez por ano para lhe desejar um Bom Natal…
Imagine que lhe sussurram carinhosamente ao ouvido:
Em 2016 vamos extinguir as “INSTITUIÇÕES TOTAIS”, mudar o paradigma de intervenção e os cuidados prestados passarão a ser centrados na pessoa, em cada pessoa, preservando a sua autonomia e respeitando o seu projeto de vida.”