Miley Cyrus despontou para o estrelato na Disney, como atriz, na pele de Hannah Montana, uma popstar que fez a delícia de milhões de crianças e adolescentes. “Explodiu” também como cantora e tem milhões de fãs. Ousadia não lhe falta, já aplicou a dança sensual twerking ao Pai Natal, a um duende e a um urso gigante e simulou um ato de masturbação. O teledisco Wrecking Ball atingiu 19 milhões de visualizações nas primeiras 24 horas. Paralelamente ao sucesso, aumentam as críticas relacionadas com a “conotação sexual” do videoclip. Em França, o regulador dos media censurou o teledisco e impediu as televisões de o emitir antes das 22:00. A obscenidade latente, segundo o Conselho Superior do Audiovisual Francês, pode ferir a susceptibilidade dos mais jovens.
Não sou um defensor da tradicional “moral” e dos “bons costumes” e considero que o sexo não deve ser um tema tabu. Medidas restritivas não serão a solução adequada. Afinal de contas, se um jovem ligar o grande ecrã às 22:01 já pode ver sem qualquer problema…
Sou apologista, isso sim, da pedagogia associada à educação para os media.
No nosso país a cantora também faz furor, sucedendo-se as reinterpretações com direito a vídeos no YouTube: “Fumeiro de Vinhais” (https://www.youtube.com/watch?v=4CeAIWz4IXA) e “Versão do popular vídeo “Wrecking Ball” de Miley Cyrus, pelos utentes do Lar de idosos do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo” ().
httpvh://youtu.be/T6hJtX2JwkM
Em Vinhais, o vídeo mostra um jovem em roupa interior, rodeado de enchidos, com uma tatuagem, tipo militar das antigas colónias, onde se pode observar um coração e a inscrição “Feira do Fumeiro”. O jovem “canta”, utiliza um baloiço em forma de chouriça e “lambe um salpicão”. Recordemos que a artista americana lambe um martelão… A criatividade não tem limites…
No Lar da Gafanha do Carmo (Ílhavo), um animador e uma gerontóloga, são admiradores confessos de Miley e consideram-na um modelo a seguir: “Como ela, queremos combater o preconceito. Criticada ou não, a Miley tem alcançado o sucesso e é feliz.” Quanto ao sucesso, estamos de acordo. No que concerne ao combate ao preconceito, enfim, julgo ser algo discutível o seu mérito e deixará muita a desejar…
Na cruzada contra o preconceito, o “animador” e a “gerontóloga”, inovadores e empreendedores, decidiram fazer um vídeo que recria a música da polémica Wrecking Ball. Alguns idosos foram selecionados e imitaram a provocadora artista. A senhora Emília, em vez de lamber um martelão ou um salpicão, lambeu uma bengala…
Consegue imaginar a sua mãe ou a sua avó a lamber uma bengala no YouTube? Convido-o a ver o vídeo e a retirar as suas conclusões.
A brincadeira com os enchidos, poderá ter alguma piada…
Quando os atores são utentes / clientes de um lar / centro de dia, não me parece ajustado que sejam expostos ao ridículo. Se os vídeos da artista poderão ser criticados, o que dizer desta imitação? Um lar de idosos não deve ser uma antecâmara da morte, sendo desejável um plano que preconize a dinamização de atividades lúdicas, culturais e desportivas, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos seus utentes. Mas, quando se ignora a dignidade e a intimidade do ser humano, os profissionais e as instituições não estão a cumprir a sua missão. Percebo a ideia de inovar, publicitar e angariar novos clientes. Não aceito que se instrumentalizem as “Marias” e os “Josés” que merecem o nosso respeito e devem manter a sua dignidade inviolável. Se a “infantilizão” dos idosos é considerada mau trato, o que dizer desta irresponsabilidade?