Histórias de moral e exemplo

O monstro sentiu-se mimado com a distinção. Tinha sessenta e seis anos e disse temer os efeitos dessa emoção na saúde de um velho.

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  • 18:29 | Terça-feira, 24 de Novembro de 2020
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A União Soviética recebeu a conferência de Ialta, que decidiu a Europa do pós-guerra. Hoje, como bem explica Simon Sebag Montefiore, parece evidente que se fizeram demasiadas concessões a Estaline. Este, porém, ciente dos dez milhões de soldados que se encontravam na Europa de Leste, tinha uma opinião diferente. Apresentava-a como uma anedota, em que entravam, além dele, Churchill, com quem não simpatizava mas considerava astuto, e Roosevelt, por quem nutria uma afeição inesperada. A anedota era assim:

«Churchill, Estaline e Roosevelt foram à caça. Finalmente, conseguiram matar um urso. Churchill disse: “Eu fico com a pele. Roosevelt e Estaline que dividam a carne.” Ao que Roosevelt disse: “Não, eu fico com a pele. Churchill e Estaline que dividam a carne.” E Estaline não dizia nada, de modo que Churchill e Roosevelt lhe perguntaram: “Então, senhor Estaline, que diz?” Estaline limitou-se a responder: “O urso pertence-me. Ao fim e ao cabo, fui eu que o matei.”» Moral da história, segundo Montefiore: «O urso é Hitler, e a pele do urso é a Europa de Leste.»

No Verão, Estaline foi elevado a generalíssimo. Enquanto jardinava as amadas roseiras, um súbdito entregou-lhe as tesouras que ele pedira, e manteve atrás das costas, até o Supremo se aperceber do gesto, a estrela de Herói da União Soviética. O monstro sentiu-se mimado com a distinção. Tinha sessenta e seis anos e disse temer os efeitos dessa emoção na saúde de um velho.


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Publicado em Opinião