Há uma diferença entre debate e ruído!
Portugal precisa de debate, de falar, de discutir tudo: ando a dizer isso há muito tempo. Dizer o que se pensa não é criar problemas, é suscitar o debate. E isso é positivo, sempre, em qualquer circunstância. A reestruturação da dívida, perante a enormidade que ela é (208 mil milhões de euros a 31 de […]
Portugal precisa de debate, de falar, de discutir tudo: ando a dizer isso há muito tempo.
Dizer o que se pensa não é criar problemas, é suscitar o debate. E isso é positivo, sempre, em qualquer circunstância.
A reestruturação da dívida, perante a enormidade que ela é (208 mil milhões de euros a 31 de janeiro de 2014), e o peso que representa no Orçamento de Estado (OE) será sempre uma questão prioritária a refletir. E é isto que o manifesto dos 70 deveria fazer, refletir. Deveria argumentar sobre a posição de que a dívida deveria ser reestruturada, e também apontar caminhos a seguir.
Mas os seus autores não fazem nada disso. Dizem somente que a dívida tem de ser reestruturada, dada a sua dimensão que impede o crescimento, deixando também muito claro que nada une os signatários numa simples ideia sequer sobre o caminho a seguir.
Isso não é debate, nem é convidar ao debate, é simplesmente criar ruído. E este ruído prejudica toda a gente, porque quem é dono da nossa dívida fica, naturalmente, alarmado se notar que quem faz esse ruído tem peso na sociedade portuguesa.
O debate faz-se com propostas concretas, caminhos alternativos, e não com coisas avulso que visem a confusão, e que na verdade seriam um problema sério que precisaria de um plano bem definido e consensos para resultar. Nada disso, planos concretos, ou sequer um esboço de um compromisso, está no manifesto: aliás eles são claros em dizer que não concordam nos caminhos a seguir. Mas sendo pessoas informadas, eles sabem que o simples manifesto colocou os mercados a reagir na defensiva.
O que precisamos é reduzir o serviço da dívida, e isso implica menos juros, o que coloca o foco nos compromissos e num plano a longo prazo que dê garantias a credores. E talvez com isso, e com a ajuda da UE, se consiga uma extensão de prazos.
Mas reparem na diferença: um plano e consensos que dão origem a melhorias, e não a irresponsável atitude de forçar uma situação limite em que a mensagem de futuro é: o rei vai nu, e depois logo se vê.
Chegamos até aqui por isso: ausência de planeamento e irresponsabilidade.
Mais disso não, por favor!
Todo este problema deveria ter sido atacado em 2010, quando era bem evidente o precipício em que nos estávamos a meter. Mas ninguém quis saber. Quase nenhum destes signatários quis saber ou escreveu manifestos. Muitos estavam do lado de lá, alegremente a criar dívida e a agravar a situação.
. Era o que pensava na altura, e exatamente o que penso agora.
Deixo-o aqui na versão publicada no livro “Em… breve”.
Espero que seja um motivo de reflexão e debate.
J. Norberto Pires
Referências
(1) “OE2011: o momento zero“, 13 de Outubro de 2010, publicado no livro “Em… breve”, Coimbra, 2012
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