Duarte Cordeiro é dos melhores ministros deste governo. Ainda jovem, tem dado mostras, no exercício da sua função, de competência e de maturidade. Olhando para ele, percebemos que é possível fazer obra, sem ser estouvado. Que é possível caminhar firme, sem arrastar os pés. Que se pode meter a mão na massa, sem deixar rabos de palha. Que se pode ser enérgico, sem ser leviano. Que ponderação e juventude não são inconciliáveis. Fez uma gestão serena, mas assertiva, da difícil pasta do Ambiente e da Acção Climática, áreas que, interna e externamente, vivem momentos conturbados de muita agitação e fácil instrumentalização.
No meu entendimento, embora exagerando na decisão, deu uma chapelada a todos os que, arcando com sérias suspeitas sobre si, a muito custo e só empurrados abandonam os lugares que exigem seriedade à prova de bala.
Há poucos meses, um seu camarada, um activo tóxico, sem pulsão de governante e a contas com a justiça, escolheu passear o cão. A Duarte Cordeiro, assentam-lhe como uma luva as austeras vestes da solene gravitas. É um exemplo raro de desapego às bolorentas cadeiras estofadas de um poder em agonia. Num palco onde se digladiam egos dilatados e estúpidas vaidades, oxalá que não se deixe enlamear com as tentações do mando. O polvo é grande, os braços são poderosos e, por vezes, a carne é fraca. Por enquanto, não há nódoa que lhe suje a roupa, o que, só por si, e olhando ao contexto, é uma enorme vantagem.
Portugal e os portugueses precisam de se reconciliar com os partidos, máquinas que tradicionalmente alimentam uma rede de clientelas videirinhas e de seguidores acríticos, carecem de voltar a acreditar nas boas e rectas intenções dos seus líderes, de confiar na qualidade e seriedade dos eleitos, enquanto fiéis depositários da ética republicana.
Para isso, nada melhor do que, sem demagogias e sem histerismos, escolher políticos com vida própria, impolutos e honrados, capazes de olharem para o País antes de se focarem no partido, dispostos a preocuparem-se mais com o futuro dos portugueses do que com as medidas fáceis, que dão votos e popularidade.
Se assim não for, e assim não se fizer, perto estarão os tempos em que muitos, mesmo os mais bem intencionados, reclamarão por uma IV República.