A freguesia é a menor divisão administrativa em Portugal. É governada por uma Junta de Freguesia, um órgão executivo que é eleito pelos membros da Assembleia de Freguesia, à excepção da presidência, que é atribuída a quem encabeça a lista mais votada.
Perceber a história das freguesias é também perceber a história do território e das dinâmicas populacionais.
Em 2013 assistimos a um processo de extinção e agregação de freguesias. Este corte levado a cabo pelo então governo da Troika, após a assinatura do Memorando de Entendimento, constituiu um dos maiores ataques em tempo de democracia ao poder local, ao conduzir à extinção de 1.168 freguesias e à redução de 20.000 pessoas eleitas.
Além do mais, as agregações foram feitas ignorando a realidade das populações, medidas a régua e esquadro, ignorando por completo a história e vida das pessoas e gerando, inevitavelmente, desagrado social.
Desde então, as contestações não têm parado, exigindo a correção de erros grosseiros e a devolução da voz às populações, por exemplo, através de referendos que permitiriam conhecer a realidade e a vontade das mesmas.
Este processo não conduz à criação de novas freguesias, mas à reposição de freguesias que existem e das quais as populações foram expropriadas, num ataque direto à sua representatividade e pertença.
Esta é parte da reflexão que tenho feito ao longo desta semana, depois de ter visitado Boa Aldeia, no concelho de Viseu.
Mas Boa Aldeia é ainda exemplo de outra coisa: habitações sem acesso às redes públicas de água e saneamento, num concelho onde a gestão municipal que se gaba de 99% de cobertura destes bens, supostamente públicos e idealmente universais.
À insistência, desde 2009, de uma família que reside numa destas habitações, Câmara Municipal e Junta de Freguesia nada têm dito. A única resposta existente é por parte do Serviço Municipal de Água e Saneamento, que foi apresentando orçamentos entre os 2 mil e quatrocentos euros e os quase 5 mil euros, a imputar aos residentes, para ligação dos ramais.
Mas se este é um exemplo muito concreto e localizado, a verdade é que serviu para abrir portas a que chegassem ao Bloco de Esquerda de Viseu mais situações em mais locais, revelando que a vaidade do marketing camarário não responde a todas as pessoas, deixando algumas delas entregues a processos burocráticos que se arrastam durante anos e sem acesso a bens, repito, supostamente públicos e idealmente universais.
Redefinir identidades territoriais a régua e esquadro não funciona, como propagandear percentagens de grandes feitos autárquicos não responde a toda a gente. Os territórios não são quadrículas, tal como as pessoas não são números!