“Crime ambiental e patrimonial que a Câmara se prepara para cometer”, denuncia Filomena Pires

Da deputada municipal eleita pela CDU publica-se esta sua intervenção na última Assembleia Municipal de Viseu

  • 12:47 | Sábado, 27 de Abril de 2019
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“Ponto 11 – 3ª Alteração ao PP Centro Histórico

A existência de um problema, em matéria de estacionamento, a que é necessário dar resposta na cidade de Viseu, não passa pela transformação de estacionamento gratuito em estacionamento pago, pela construção de mamarrachos em zonas sensíveis do centro histórico ou na utilização de espaços verdes que poderiam ser transformados em lugares públicos de lazer e valorativos da atratividade do centro histórico, em focos de poluição e fonte privada de lucro. Esta concessão pelo Município de Viseu da exploração e gestão de estacionamento na cidade, legitima a opinião generalizada de que o objetivo fundamental que lhe está subjacente, não é resolver o problema do estacionamento nas zonas de maior pressão na cidade, mas, antes, proporcionar um bom negócio à concessionária.  

A prová-lo está o empenho obsessivo e inexplicável da Câmara, à luz do interesse público, na viabilização desta solução, contra todos os pareceres desfavoráveis e ao arrepio e contraditoriamente com o que tem sido a sua filosofia para o centro histórico. Senão vejamos: paga fortunas à Cria Verde e a outros viveiristas para instalarem jardins no centro histórico sempre que há eventos ocasionais. Adquire uma propriedade no coração do centro histórico por 480 mil euros e em vez de dar coerência ao discurso e instalar aí um Parque de Lazer e um Jardim Público até agora inexistente, para usufruto de moradores, turistas e visitantes, vai abater árvores e arbustos para construir um poluente e ruidoso Parque de Estacionamento, para encher de dinheiro o concessionário; elege como desígnio e investe milhões na promoção turística, mas aceita trocar um previsto e autorizado empreendimento hoteleiro no centro histórico, por um Parque de estacionamento privado; aprova a criação de um Polo Arqueológico Concelhio a instalar na Casa do Miradouro e faz disso paragonas  na comunicação social, mas vai colocar-lhe em frente um mastodonte de cimento “pós moderno”, para albergar veículos automóveis, desvirtuando assim a percepção da cidade, ocultando todo o edificado histórico ali existente, com impactos negativos mesmo na zona da Sé e do Museu Grão Vasco; fala do MUV como o melhor do País e do mundo, aderindo à filosofia de substituição do carro próprio pelo transporte colectivo, medida elementar retirar trânsito do centro da cidade, mas vai construir 3 parques de estacionamento bem no coração do centro histórico, para levar para ali mais automóveis; falou o Senhor Presidente vezes sem conta e outros membros do Executivo em retirar o trânsito do Centro Histórico e até ensaiou períodos de corte absoluto de circulação. Incoerentemente vai instalar ali mais parques de estacionamento, motivando a presença de mais veículos automóveis naquele espaço. Implementa novos circuitos urbanos de autocarro na cidade, para estimular o uso de transporte público, antagonicamente vai construir parques de estacionamento onde devia haver apenas presença humana para fruição de cultura, exercício da Fé e porque não diversão. Afinal o que pretende?


Como propus aquando da discussão do MUV nesta Assembleia e a Câmara demagogicamente inscreveu no documento final do Projecto, para se atingir o objectivo de menos poluição e pressão automóvel no centro da cidade, é necessário que se implemente um serviço que estimule o estacionamento dos veículos vindos do exterior, na Avenida Europa, na Radial de Santiago, na Zona do Politécnico/Quartel, nas zonas que antecedem o Palácio do Gelo e outras (Feira de S. Mateus, Feira Semanal) que um estudo global devia equacionar. À Câmara competiria garantir a segurança dos veículos e o transporte para o centro da cidade, mediante cobrança de um bilhete aos auto-transportados.”  

Nesta questão, parece-me que estamos na presença de mais um bom negócio para a SABA Portugal Parques de Estacionamento S.A.,com prejuízos evidentes para o interesse público, para vida das pessoas, para o património histórico e monumental da cidade, para o meio ambiente.

No que depender da CDU, a população será esclarecida sobre esta gravosa opção da Câmara, já que o simulacro de discussão pública que promoveu, como o mostra o Relatório produzido, apenas serviu para cumprir uma formalidade legal e nunca teve o propósito de aprofundar o esclarecimento sobre os objectivos desta alteração ao Plano de Pormenor. 20 dias em que não houve uma única pessoa ou entidade a requer a consulta aos documentos ou a emitir opinião, diz bem da seriedade com que a divulgação desse período foi feita. Fosse outra a questão e não faltariam sessões públicas profusamente anunciadas para o show off municipal. Nesta questão, o esclarecimento era perigoso, porque alertaria as pessoas para o crime ambiental e patrimonial que a Câmara se prepara para cometer, para servir interesses que não são de todo os dos munícipes.

Votarei contra e denunciarei até que a voz me doa esta moscambilha.”

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Publicado em Opinião