I.
(Salazar)
“Já Maquiavel dizia que a máxima dos sábios dos nossos dias consiste em esperar o benefício do tempo“, Oliveira Salazar, entrevista a António Ferro, 1932.
E foi, efectivamente, uma das arteiras praxis, entre outras, que este político engendrou.
Do 28 de Maio de 1926 ao advento do Estado Novo (1933-1934), decorreu o processo de transição da ditadura militar para o regime salazarista.
(…)
O ditador morre em 1968, na ignorância de que já não é o Presidente do Conselho de ministros.
A prestidigitação (quase) final.
Chega a liberalização (tardia) de Marcelo Caetano, abrupta e definitivamente terminada em 1974, com a Revolução de Abril.
II.
(O Estado)
Uma das possíveis análises e definições de Estado, sintetizada, diz-nos que o Estado é uma comunidade humana; que os seus elementos essenciais são o povo, o território e o poder político; que os seus fins são a segurança, a justiça e o bem-estar.
O Estado Novo não é, em sentido lato, uma comunidade humana, o povo não está na sua essência, a justiça e o bem-estar existem apenas para as minorias dos lugar-tenentes do regime.
Logo, redutora e simplisticamente, o Estado Novo é um falhanço redundante, que iludiu, ludibriou e reprimiu os portugueses durante quatro longas décadas.
III.
(Cerne da questão)
Fernando Pessoa, a respeito deste assunto:
SIM, É O ESTADO NOVO
Sim, é o Estado Novo, e o povo
Ouviu, leu e assentiu.
Sim, isto é um Estado Novo
Pois é um Estado Novo
Pois é um estado de coisas
Que nunca antes se viu.
Em tudo paira a alegria
E, de tão íntima que é,
Como Deus na Teologia
Ela existe em toda a parte
E em parte alguma se vê.
Há estradas, e a grande Estrada
Que a tradição ao porvir
Liga, branca e orçamentada,
E vai de onde ninguém parte
Para onde ninguém quer ir.
Poema In Pessoa / Persona , Agostinho Domingues, Câmara Municipal de Amares, I Centenário do Nascimento do Poeta, 1988.