Houve tempos em que na política portuguesa havia um líder especializado em “sound bytes”, capazes de acordar o mais acabrunhado dos mortais e iludir o mais desapegado eleitor. Tinham um efeito perturbador no conservadorismo e nos vagares arrastados das campanhas eleitorais. Embora demagógicos, eram uma pedrada no charco. Todos os outros líderes, do seu tempo e de hoje, eram, e são, esforçados, mas improdutivos aprendizes da arte. Respondia pelo nome de Paulo Portas, e era um especialista nessas matérias, desde os tempos de “O Independente“, um irrequieto semanário que não merecia ter acabado, eu lia-o de fio a pavio. Todas as notícias tinham o seu fundo de verdade, e as crónicas mordazes eram deliciosas. Deu a conhecer segredos e escândalos que a imprensa certinha e arrumadinha, amarrada a grupos económicos, não informava. Invariavelmente, deixava-me preocupado e alegre.
Depois de ter saído das mãos de Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso, um jovem extravagante que conheci na Lisboa quente dos anos 74/75, nunca mais foi o mesmo, perdeu a irreverência, e não tinha metade da graça.
E o que tem tudo isto a ver com Luís Montenegro? Talvez nada, quiçá muito. A mesma técnica, que tem vindo a ensaiar, estando a milhas de distância do político citado acima. Por mais que se calce, não lhe chega aos calcanhares. Mas tem vindo a fazer umas pífias tentativas de se acoitar nesse excitante “modus operandi”. O “orçamento pipi” não lhe correu nada bem, e logo os homens das correntes férreas trataram de lhe acertar o passo, tirando-o do desafortunado carril por onde, desgraçadamente, se tinha aventurado.
O PREC tem quase 50 anos de vida, e já ninguém vai na cantiga do papão comunista que comia criancinhas logo de manhã. Foi chão que deu uvas.
Entre os seus, e empurrado pela euforia, brindou-nos com outros dizeres panfletários, que registei, e guardei para memória futura. São bons de ouvir, caem bem no colo do descontentamento que vai alastrando por aí, silencioso, à espera de uma ocasião para se mostrar.
Calha que não discordo de todo com a fotografia, mas isso sou eu que não passo da condição de um simples eleitor, consciente de que a minha responsabilidade se esgota no exercício do direito de voto, quando dobro em quatro o papelinho que deposito na urna.
Agora, o Dr. Montenegro, que tem sérias possibilidades de vir a ser primeiro-ministro, deve ter bem a certeza do que diz, porque o tempo de dizer o que se quer e apetece para agitar as massas, sem que o incumprimento seja depois penalizado, também tem de acabar.
Os políticos não se podem dar ao luxo de prometer tudo e mais alguma coisa, gozando nas nossas caras, fazendo de nós uns pacóvios que sustentam as suas mordomias e sinecuras. Essa impunidade, venha ela de onde vier, não pode medrar. Os políticos não se podem julgar uns seres privilegiados, a quem tudo é permitido, mesmo a mais reles e despudorada mentira. Se assim puder ser, largar fartura sem sustento, estamos na república da baixaria.
Presumo que se o PSD vencer as eleições os salários aumentarão e os impostos baixarão. Tudo o que qualquer português gosta de ouvir. E ver. Sendo essa a vontade expressa do partido, com o carimbo do presidente, e com as contas no excedente, é seguro que não se trate de promessa oca, e acontecerá, de facto, nem que para tanto o orçamento seja revisto.
Quanto à arrogância, não foi há muito o tempo do “ai, aguenta, aguenta”, do “para além da troika”, e do “brutal aumento de impostos”, frases largadas com uma frieza gelada e uma incompreensível insensibilidade social. Quanto a essa matéria, presumo que estamos conversados.
No conclave do fim-de-semana, de entre os anteriores líderes, teve o abraço de Cavaco Silva e de Manuela Ferreira Leite. Não é coisa pouca. Lembrar-lhe as ausências dos restantes, é uma crítica estafada, até porque foram muitas as presenças de figuras de proa do barrosismo e do passismo.
Na hora da verdade, se cheirar a poder, aparecerão todos a engrossar o pelotão da corrida, rimando nos elogios à liderança e nos gabos ao carisma que hoje, sem rebuço, questionam nos bastidores, soprando essa preocupação para os “media”.
De resto, a sul nada de novo, salvo o anúncio ao país de que a mulher de Cavaco Silva estava à sua espera para jantar. Talvez um caldo de nabiças, que cai sempre bem.
(Fotos DR)