Os números que ontem o JN trazia sobre o apoio que o Estado já presta às famílias não podem deixar ninguém indiferente.
Criámos uma sociedade consumista onde as famílias vivem em função do dia 30 de cada mês e de repente, a pandemia desmontou a normalidade e expôs estas fragilidades. Quem tem apoio familiar, rendimento assegurado ou algumas poupanças ainda se vai aguentando, mas aqueles que infelizmente caíram no desemprego ou em lay off viram a sua vida a andar para trás. Os expatriados mais dificuldades sentem porquanto a sua rectaguarda estará noutros países a braços com idêntico problema e assim, o Estado viu-se perante a necessidade de apoiar as famílias.
Viseu não foge à regra nesta problemática social e deixando de lado as razões que, num executivo sério, levariam a vereadora da área social a demitir-se, já que se demitiu dessa função para dar palco a outro protagonista com um umbigo maior, são conhecidos vários casos de apoio positivo, quer por parte das Juntas de Freguesia, quer pelo Viseu Ajuda e mesmo pela Segurança Social.
A realidade que o JN espelha mostra que o assunto não está resolvido e que muito maior necessidade de apoio às famílias poderá vir a desenhar-se se, como se prevê, com o Inverno que se aproxima e as gripes sazonais venham a surgir mais casos de Covid-19 na comunidade.
Vejamos, quantos de vós não passaram já na Rua Capitão Silva Pereira ou na Rua do Carmo, só para citar dois exemplos, e junto dos contentores do lixo tiveram que tapar o nariz e suster a respiração devido ao cheiro enjoativo e nauseabundo que tresanda dos ecopontos de lixo comum? Se ainda não tiveram essa experiência imersiva, como diz o vendedor de sonhos do Rossio, passem por lá e constatem in loco, na certeza que nem a máscara filtra o repelente odor.
A razão é simples de perceber. A uma mais alargada escala de recolha do lixo junta-se o calor próprio do Verão que faz azedar com facilidade os restos de comida que os restaurantes da zona inevitavelmente ali depositam e que, até acredito, sejam em maior quantidade porque com a menor clientela, os registos de frequência neste cenário que a pandemia criou no consumidor, no cliente habitual, passaram de regulares a esporádicos.
Já perceberam certamente onde pretendo chegar, mas permitam que adiante algumas experiências prévias.
Os resíduos alimentares são motivo de grande preocupação na Europa e estima-se que, anualmente, se desperdiçam só na União Europeia cerca de 100 milhões de toneladas de alimentos.
Há perdas ou desperdícios ao longo de toda a cadeia de abastecimento alimentar: na exploração agrícola, na transformação, no fabrico, nas lojas, nos restaurantes e nas habitações.
Além da mudança nos nossos hábitos alimentares para evitarmos o desperdício, o executivo, sempre tão ávido de mostrar trabalho, em parceria com os sócios costumeiros do show-off, a ACDV e a AHRESP, devia conduzir workshops com os objetivos de transmitir técnicas e receitas de aproveitamento de sobras de alimentos, evitar desperdícios alimentares na cozinha de um restaurante e aplicar no menu a dose certa.
Em 2016 no Porto nasceu o Embrulha onde se apelava à consciência do desperdício alimentar e, rapidamente isso começou a ser mais forte do que a vergonha de ser visto como “aquele que leva os restos para casa”. Desta forma, evita-se que toneladas de comida vão parar aos contentores de lixo, todos os dias.
A própria ARESHP lançou em 2010 uma rede nacional de solidariedade, denominada “DA – Direito à Alimentação”, que pretendeu pôr os restaurantes e empresas a ajudarem a matar a fome em Portugal. Oeiras e Lisboa cedo aderiram a esta iniciativa que já leva uma década e criaram também o “vale solidário” – uma refeição composta por sopa, prato principal, pão e fruta que os restaurantes se comprometem a oferecer a famílias carenciadas – o objectivo é desenvolver um sistema de aproveitamento de excedentes de refeições e alimentos cozinhados, respeitando as regras sanitárias definidas pela ASAE, usando até nalguns casos uma caixa refrigerada para garantir todas as condições de transporte, situação que até o Presidente da República apadrinhou.
Um outro exemplo e numa outra perspectiva apresenta uma aplicação para telemóvel que vende refeições de restaurantes feitas com o desperdício alimentar do dia! Só isto já seria uma grande novidade: ajuda o ambiente, combate o desperdício alimentar, é uma inovação, e os preços são irresistíveis e, segundo os responsáveis, vão dos €2 por refeição aos €5. A novidade chama-se Too Good to Go, já existe noutros países também e está disponível tanto para Android como para iPhone, mas só para Lisboa no caso de Portugal. Porque não Viseu?
Adiante, a ideia aqui seria então a seguinte: com vista a preparar para melhor apoiar as famílias e os cidadãos necessitados e ao mesmo tempo a combater o desperdício alimentar evitando que vão parar ao lixo com todos os inconvenientes daí decorrentes, era bom que o executivo alinhasse esforços com a ACDV e AHRESP para junto dos restaurantes e similares passarem a recolher os restos de refeição em boas condições, acondicionarem e fornecerem aqueles para quem esse pequeno nada representa muito para as suas vidas neste período.
Nestas circunstâncias, aos restaurantes e supermercados aderentes, a autarquia concederia um proporcional desconto na factura da água em função do número mensal de refeições disponibilizadas, como forma de compensação e ajuda àqueles que com o seu trabalho e esforço também ajudam outros viseenses assim necessitados.
Fica a dica se a quiserem aproveitar.