Famílias carenciadas e desperdícios alimentares

Viseu não foge à regra nesta problemática social e deixando de lado as razões que, num executivo sério, levariam a vereadora da área social a demitir-se, já que se demitiu dessa função para dar palco a outro protagonista com um umbigo maior, são conhecidos vários casos de apoio positivo, quer por parte das Juntas de Freguesia, quer pelo Viseu Ajuda e mesmo pela Segurança Social.

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  • 8:58 | Segunda-feira, 17 de Agosto de 2020
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Os números que ontem o JN trazia sobre o apoio que o Estado já presta às famílias não podem deixar ninguém indiferente.

Criámos uma sociedade consumista onde as famílias vivem em função do dia 30 de cada mês e de repente, a pandemia desmontou a normalidade e expôs estas fragilidades. Quem tem apoio familiar, rendimento assegurado ou algumas poupanças ainda se vai aguentando, mas aqueles que infelizmente caíram no desemprego ou em lay off viram a sua vida a andar para trás. Os expatriados mais dificuldades sentem porquanto a sua rectaguarda estará noutros países a braços com idêntico problema e assim, o Estado viu-se perante a necessidade de apoiar as famílias.

Viseu não foge à regra nesta problemática social e deixando de lado as razões que, num executivo sério, levariam a vereadora da área social a demitir-se, já que se demitiu dessa função para dar palco a outro protagonista com um umbigo maior, são conhecidos vários casos de apoio positivo, quer por parte das Juntas de Freguesia, quer pelo Viseu Ajuda e mesmo pela Segurança Social.


A realidade que o JN espelha mostra que o assunto não está resolvido e que muito maior necessidade de apoio às famílias poderá vir a desenhar-se se, como se prevê, com o Inverno que se aproxima e as gripes sazonais venham a surgir mais casos de Covid-19 na comunidade.

Importa pois começar a preparar respostas mais eficazes e mais sustentadas a este drama. E, não precisaremos de grandes campanhas de marketing nem soluções milagrosas como o Cubo Mágico dos 30 milhões de euros ou o Viseu Compra Aqui com as 6 empresas já registadas ao final de 3 meses, pois bastará copiar as boas práticas de outros municípios.

Vejamos, quantos de vós não passaram já na Rua Capitão Silva Pereira ou na Rua do Carmo, só para citar dois exemplos, e junto dos contentores do lixo tiveram que tapar o nariz e suster a respiração devido ao cheiro enjoativo e nauseabundo que tresanda dos ecopontos de lixo comum? Se ainda não tiveram essa experiência imersiva, como diz o vendedor de sonhos do Rossio, passem por lá e constatem in loco, na certeza que nem a máscara filtra o repelente odor.

A razão é simples de perceber. A uma mais alargada escala de recolha do lixo junta-se o calor próprio do Verão que faz azedar com facilidade os restos de comida que os restaurantes da zona inevitavelmente ali depositam e que, até acredito, sejam em maior quantidade porque com a menor clientela, os registos de frequência neste cenário que a pandemia criou no consumidor, no cliente habitual, passaram de regulares a esporádicos.

Já perceberam certamente onde pretendo chegar, mas permitam que adiante algumas experiências prévias.

Os resíduos alimentares são motivo de grande preocupação na Europa e estima-se que, anualmente, se desperdiçam só na União Europeia cerca de 100 milhões de toneladas de alimentos.

Há perdas ou desperdícios ao longo de toda a cadeia de abastecimento alimentar: na exploração agrícola, na transformação, no fabrico, nas lojas, nos restaurantes e nas habitações.

Além da mudança nos nossos hábitos alimentares para evitarmos o desperdício, o executivo, sempre tão ávido de mostrar trabalho, em parceria com os sócios costumeiros do show-off, a ACDV e a AHRESP, devia conduzir workshops com os objetivos de transmitir técnicas e receitas de aproveitamento de sobras de alimentos, evitar desperdícios alimentares na cozinha de um restaurante e aplicar no menu a dose certa.

Em 2016 no Porto nasceu o Embrulha onde se apelava à consciência do desperdício alimentar e, rapidamente isso começou a ser mais forte do que a vergonha de ser visto como “aquele que leva os restos para casa”. Desta forma, evita-se que toneladas de comida vão parar aos contentores de lixo, todos os dias.

A própria ARESHP lançou em 2010 uma rede nacional de solidariedade, denominada “DA – Direito à Alimentação”, que pretendeu pôr os restaurantes e empresas a ajudarem a matar a fome em Portugal. Oeiras e Lisboa cedo aderiram a esta iniciativa que já leva uma década e criaram também o “vale solidário” – uma refeição composta por sopa, prato principal, pão e fruta que os restaurantes se comprometem a oferecer a famílias carenciadas – o objectivo é desenvolver um sistema de aproveitamento de excedentes de refeições e alimentos cozinhados, respeitando as regras sanitárias definidas pela ASAE, usando até nalguns casos uma caixa refrigerada para garantir todas as condições de transporte, situação que até o Presidente da República apadrinhou.

Um outro exemplo e numa outra perspectiva apresenta uma aplicação para telemóvel que vende refeições de restaurantes feitas com o desperdício alimentar do dia! Só isto já seria uma grande novidade: ajuda o ambiente, combate o desperdício alimentar, é uma inovação, e os preços são irresistíveis e, segundo os responsáveis, vão dos €2 por refeição aos €5. A novidade chama-se Too Good to Go, já existe noutros países também e está disponível tanto para Android como para iPhone, mas só para Lisboa no caso de Portugal. Porque não Viseu?

Adiante, a ideia aqui seria então a seguinte: com vista a preparar para melhor apoiar as famílias e os cidadãos necessitados e ao mesmo tempo a combater o desperdício alimentar evitando que vão parar ao lixo com todos os inconvenientes daí decorrentes, era bom que o executivo alinhasse esforços com a ACDV e AHRESP para junto dos restaurantes e similares passarem a recolher os restos de refeição em boas condições, acondicionarem e fornecerem aqueles para quem esse pequeno nada representa muito para as suas vidas neste período.

Nestas circunstâncias, aos restaurantes e supermercados aderentes, a autarquia concederia um proporcional desconto na factura da água em função do número mensal de refeições disponibilizadas, como forma de compensação e ajuda àqueles que com o seu trabalho e esforço também ajudam outros viseenses assim necessitados.

Fica a dica se a quiserem aproveitar.

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Publicado em Opinião