Aqui há uns tempos defendi que é necessário investir mais na estrutura de protecção e socorro. Essa aposta devia ser feita de forma estruturada e não só em equipamentos mais polivalentes e capazes mas, essencialmente, no mais importante em qualquer organização humana, os seus recursos humanos.
É preciso dotar todos os corpos de bombeiros de estruturas basilares profissionalizadas que possam possibilitar corpos voluntários mais curtos, mais eficientes e económicos, com bombeiros voluntários mais determinados, melhores treinados e fisicamente mais preparados, menos avessos a acidentes trágicos.
O recente sismo em Itália – como os incêndios da primeira quinzena de Agosto – só vieram, na minha opinião, demonstrar com maior acutilância esta necessidade. Estes riscos tremendamente catastróficos, um com períodos de retorno muito elevados, o outro com ciclos quase sempre anuais, impõem uma estrutura e um dispositivo profissional para uma primeira resposta eficiente, capaz de lidar competentemente com as necessidades da população, tendo na retaguarda um exército de voluntários para complementar o seu trabalho. Houvesse um sismo com efeitos semelhantes ou piores – cenário mais que provável – e pese embora todo o empenho e boa vontade de todos, qual seria a resposta que Portugal podia dar à sua população? Outros riscos presentes no território apenas reforçam esta ideia.
Também no que aos voluntários diz respeito é necessário, de uma vez por todas – e após assegurar uma estrutura mínima profissionalizada e da responsabilidade do Estado, assumindo directamente um imperativo constitucional – regular esse exercício, com critérios mais rígidos para admissão e permanência, e com regalias para quem comprovadamente preste o apoio necessário sempre que este o seja.
Não podemos é continuar a viver nesta espécie de limbo onde se louvam os voluntários mas não se lhes atribuem os recursos adequado e exigidos. Não podemos continuar com discursos laudatórios ao mesmo tempo que deixamos ao muito característico nacional desenrascanço o ónus de tratar de tudo o que é essencial para prestar um serviço de qualidade à população. Sendo que uns conseguem mais do que outros, estamos a contribuir, também neste sector, para a litoralização do território continental português. Não haverá grande problema, depois podemos admirarmo-nos com um qualquer “tsunami” real ou figurado.