Após seis anos, a acusação viu, finalmente, a luz do dia. Comenta-se que, dada a complexidade do processo e os poucos recursos disponíveis, nem terá sido tempo demais. E, para bem da justiça, que anda pelas ruas da amargura, de quelha em quelha, a fundamentação estará sólida, sendo muito difícil que os cinco mânfios escapem a condenações. Mas até que isso aconteça, com as fases dos processos e os incidentes levantados pelos advogados, irá passar mais outra meia dúzia de anos. Virtudes de um direito, a meu ver, excessivamente garantístico.
Os 5 acusados, 4 deles uns serventuários do patrão, são especialistas no alto gamanço, que as modernices baptizaram de engenharia financeira. O cérebro da vigarice parece ser o Ricardinho, senhor de bons modos e cavalheiro de boa aparência, adulado por muitos, temido por tantos, mas capaz da maior aldrabice financeira de que há memória, cérebro de uma rede criminosa organizada.
Pagou campanhas eleitorais, empregou ministros, deu prémios, bónus e titulou subornos. Calou vozes e comprou silêncios. Um magnata do descaramento e da hipocrisia. Do império, não sobrou nada para contar, nem restos para os lesados da manigância. Para a história negra, ficam os que seguraram o pálio e carregaram o andor que passeava um santo de pés de barro. Para o futuro, fica a dúvida do que restará se a excelência, porventura, resolver abrir a boca. Talvez por isso, pelo medo de tantos, o espécime se tenha livrado da prisão preventiva, vantagem de que não se pode gabar o Manel sucateiro, apesar de doente.
Se este foi o banqueiro do regime, que se fornique o regime. Oleosa é a galeria onde Ricardinho e outros gestores, crânios da criatividade, condecorados do 10 de Junho, figuram, hiantes e luminosos. À distância, a esta hora, estará a rir-se da trafulhice o irmão gémeo de Ricardinho. Bernie Madoff.