Esticou… quebrou

O espectáculo de mais de quatro horas não foi digno nem bonito de ver. Mais parecia uma sarabanda barroca, com sucessivos jogos de sombra e manobras de bastidores. A democracia saiu degradada com este bizarro charivari. Montenegro ficou fragilizado e muito tremido no retrato.

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  • 12:22 | Quarta-feira, 12 de Março de 2025
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Uma corda quando submetida a um esforço de tracção maior que a sua resistência, rompe, quebra, parte.

É dos livros…

Ontem o governo de Luís Montenegro caiu por ter perdido a noção dos seus limites e do seu ponto de ruptura.


Nos últimos tempos tudo se foi conjugando para este desfecho. Primeiro, o Chega apresentou uma moção de censura à qual poucos ligaram, habituados aos jogos circenses de Ventura. De seguida, o PCP, partido mais comedido nas suas decisões, apresentou a segunda moção de censura. Ambos os partidos sabiam de antemão que elas seriam chumbadas. Todavia, para marcarem território e firmarem a sua posição levaram-nas a cabo.

Perante a rejeição dessas duas consecutivas moções, Luís Montenegro sentiu-se legitimado para o passo seguinte: apresentar uma moção de confiança ao seu governo, mas no fundo a si próprio, gerador de toda esta fatal confusão com a sua empresa familiar  “SpinumViva”.

Só a incongruente IL – que se fartou de criticar Montenegro – votou a favor e, obviamente também o PSD e o CDS-PP, da coligação AD.

Todos os outros partidos votaram contra. A moção foi chumbada. O governo caiu.

Luís Montenegro mais o seu lugar tenente Hugo Soares, sopesaram com ligeireza o que tinham em mãos. Contaram até ao fim com o SIM do Partido Socialista de Pedro Nuno Santos. Invocaram tudo e o seu contrário, da estabilidade do país à consciência nacional. Não foi suficiente.

O PS insistiu no braço de ferro com a Comissão Parlamentar de Inquérito, da qual, por uma questão de coerência, em circunstância alguma abdicou. Pedro Nuno Santos sabendo bem quão penoso foi passar por uma…

O espectáculo de mais de quatro horas não foi digno nem bonito de ver. Mais parecia uma sarabanda barroca, com sucessivos jogos de sombra e manobras de bastidores. A democracia saiu degradada com este bizarro charivari. Montenegro ficou fragilizado e muito tremido no retrato.

Hoje, o agastado e afastado presidente da República vai ouvir os partidos. Marcará as eleições para meados de Maio. O governo fica em gestão, que o mesmo é dizer que exercerá o poder executivo de forma limitada até à tomada de posse do seu sucessor. O que é muito mau para o país e trará consequências lesivas para todos nós.

Já ninguém ignora que foi Montenegro quem arrastou o país para esta situação. Os seus ministros, ou por solidariedade ou por oportunidade, ficaram a seu lado. Palmas para eles…

O resultado eleitoral levará à queda de um dos líderes. Luís Montenegro ou Pedro Nuno Santos irão à sua vidinha.

Se cair Montenegro, presumivelmente o PSD mais bafiento e saudoso irá buscar Passos Coelho. Com este e a sua postura direitista, esfregará de satisfação André Ventura as mãos…

Reganhando a AD, PNS duas vezes derrotado não terá condições de continuar.

Contudo, ganhando o PS, sem uma maioria absoluta, vai ter contra si uma oposição musculada com, pelo menos, o PSD, o CDS, a IL e o Chega do outro lado da barricada. Suficientes para muita e ruidosa pateada.

Não vai ser fácil…

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