Ao realizar o II Circuito da Bairrada, o Sangalhos Desporto Clube estava talvez a lançar a segunda época de ouro do ciclismo bairradino.
A primeira, nos anos vinte, resultou do surgimento individual de atletas que, em contexto de total amadorismo, conseguiram ombrear com os melhores corredores portugueses e vencer duas vezes a Porto-Lisboa. Aníbal Carreto e Manuel Alves Pires foram os nomes cimeiros. Depois, o dinheiro, a organização e o semiprofissionalismo impuseram os clubes de Lisboa e do Porto. Em Sangalhos, graças ao apoio das lojas e fábricas de bicicletas, começa agora a emergir uma estrutura que vai sobressair nas competições nacionais. Por enquanto, o Sangalhos Desporto Clube é uma agremiação modesta, a quem nada se pede e a quem não faltarão aplausos por organizar esta corrida, na qual participaram trinta e quatro ciclistas do Sporting, Benfica, Porto, Campo de Ourique, Belenenses, etc.
Estamos no dia 20 de Julho de 1941. Sangalhos conhece aquilo que nos jornais antigos se chama «grande animação» ou «animação inusitada». À Bairrada, nunca faltou público interessado em ciclismo. Com o declínio do amadorismo, veio, porém, a falta de ciclistas, de provas e, talvez, daquela fascinante ingenuidade competitiva do tempo de Joaquim Rosmaninho.
Assim que aos ciclistas foi dada a ordem de partida, ouviram-se vivas e gritos. A comitiva de automóveis seguiu na retaguarda. E nós com eles, imediatamente antes do carro da vassoura. Fiquei logo surpreendido pela velocidade do arranque e, à medida que a prova decorria, com as médias consistentemente praticadas. Não presumia que os 180 quilómetros fossem feitos em apenas 5h43m, portanto a mais de trinta por hora.
Nuno Rosmaninho