Em defesa do interior
Os presidentes de oito câmaras do distrito de Viseu, face ao iminente encerramento das suas repartições de finanças, decidiram, e bem, concertar uma posição conjunta na defesa destes serviços nos seus territórios. Vai daí, escreveram uma moção, aprovada pelos respetivos executivos municipais e pelas assembleias municipais, de oposição ao encerramento das repartições de finanças […]
Os presidentes de oito câmaras do distrito de Viseu, face ao iminente encerramento das suas repartições de finanças, decidiram, e bem, concertar uma posição conjunta na defesa destes serviços nos seus territórios.
Vai daí, escreveram uma moção, aprovada pelos respetivos executivos municipais e pelas assembleias municipais, de oposição ao encerramento das repartições de finanças a remeter aos órgãos de soberania e aos partidos políticos.
Sempre podem os mais céticos dizer que isto não vai lá com palavras, pode dizer-se o que se quiser, mas que este gesto, dos presidentes de câmara, traduz muito mais do que o simbolismo que ele carrega, lá isso traduz.
Este gesto, parecendo mais um texto de palavras que, muitas vezes, só poucos leem, vai muito para além disso, pois ele reflete o inconformismo e, tenho a certeza, a genuína oposição dos legítimos representantes de um povo, que tem sido permanentemente usado ao sabor dos poderes macrocéfalos do terreiro do paço. Este gesto traduz um grito, um grito de revolta perante o estado central, perante um centralismo, que incapaz de se racionalizar e de conter as suas contas públicas, ataca os territórios do interior enfraquecendo as suas redes de proximidade.
Creio, mesmo, que começamos a estar perante um fermento, de vontades muito fortes, que a todo o momento pode sobreaquecer e expandir, a patamares mais viris, a forma de extravasar a indignação, pois estamos exaustos das tropelias e apatia dos governos perante uma tão vasta área territorial.
O interior do nosso país, os nossos municípios mais recônditos, mas tão estado e tão patrióticos quanto os demais, não podem continuar a carregar este fardo, este pesado fardo da interioridade. Não podemos tolerar estas lições vindas das vãs cátedras do terreiro do paço, de apologia da racionalização e defesa da sustentabilidade, mas sempre com o objetivo de prosseguir a engorda do tentacular monstro do centralismo, que será mortal para todos, mesmo para aqueles que o teorizam e o defendem.
Na pessoa do presidente de Carregal do Sal, Rogério Abrantes, dinamizador desta iniciativa, saúdo os autarcas dos concelhos envolvidos (Carregal do Sal, Santa Comba Dão, Nelas, Mortágua, Castro Daire, Sátão, Penalva do Castelo e Vila Nova de Paiva) nesta plataforma de defesa dos serviços de proximidade que são as repartições de finanças.
E se este é um ponto de partida, estou certo que novos pontos de convergência, ainda mais alargados, não deixarão de ser encontrados para mostrar aos centralistas que não nos vergarão, que não nos colocarão de joelhos perante a vã glória do poder.