Eleger o interior como causa política!
Há palavras que estão muito desgastadas, não tanto pela erosão do tempo, sobretudo pela hipocrisia dos homens. ‘Interior’ é uma dessas palavras. Têm sido inúmeras as vozes que se têm erguido para defenderem tudo aquilo que ela significa, para exigirem políticas e medidas concretas que lhe deem a substância que já teve, para corporizarem um […]
Há palavras que estão muito desgastadas, não tanto pela erosão do tempo, sobretudo pela hipocrisia dos homens.
‘Interior’ é uma dessas palavras.
Têm sido inúmeras as vozes que se têm erguido para defenderem tudo aquilo que ela significa, para exigirem políticas e medidas concretas que lhe deem a substância que já teve, para corporizarem um projeto regenerador de uma vasta área do nosso território que não estando, assim, tão longe de nada está, afinal, tão distante de tudo.
O interior tem enchido páginas e páginas de programas políticos, tem sido eleito como a paixão circunstancial de tantos e tantos governantes, mas só em tempos de eleições à vista!
Todos dizem, sempre, o mesmo sobre esta realidade: que está a perder população, que estão a encerrar serviços, que não existem empresas e empregos, que não há redes de difusão cultural. Bem o sabemos. Só no distrito e Viseu, nos últimos censos, com exceção do concelho sede do distrito, todos os restantes 23 concelhos viram a sua população reduzir-se, pela segunda ou terceira décadas consecutivas.
Impõe-se, portanto, que acabemos com as retóricas. Impõe-se-nos um olhar concreto, sobretudo um compromisso inelidível.
E nesta matéria o atual governo não tem andado bem. Não existe qualquer motivação que faça com as pessoas continuem no interior, que não seja um certo romantismo.
Não há qualquer discriminação positiva para as pessoas ou para as empresas, extinguem-se os serviços de proximidade, centraliza-se tudo em nome da, denominada, economia de escala, em nome de uma racionalidade, porém, sem qualquer ideia de sustentabilidade.
Mas a defesa do interior, a defesa de cerca de 70% do nosso território com baixa densidade, não é só importante para o próprio interior, ela é importante, também, e sobretudo, para o litoral e para as grandes áreas metropolitanas que estão pejadas de uma grande pressão sobre todas as suas redes (água, saneamento, transportes, saúde), para já não falar da qualidade do ar ou da recolha dos resíduos urbanos.
Eleger, portanto, o interior como uma das bandeiras centrais de um programa político faz todo o sentido. Direi mesmo que hoje é uma evidência apostar em medidas concretas para o interior de forma a reiniciar mesmo que lentamente, uma reversão nos fluxos com que estamos confrontados.
O PS está a fazer o seu caminho, como já aliás o tinha feito aquando dos dois últimos governos socialistas. O secretário-geral do PS, António José Seguro, tem feito este percurso, tendo já lançado há dois anos a iniciativa “roteiro em defesa do interior” e comprometeu-se, no âmbito do movimento “novo rumo para Portugal”, a fazer o seu aprofundamento.