Longe de ser um tema de outros tempos no qual as mulheres não podiam trabalhar, estudar, votar ou mesmo vestir-se da forma que desejavam, a discriminação feminina ainda se faz sentir diariamente na nossa sociedade.
Falemos da realidade portuguesa de costumes tradicionalistas, de um machismo enraizado culturalmente, muitas vezes, digo, subconsciente, subtil e tantas vezes praticado pelas próprias mulheres que não sabem pensar por si próprias e estão formatadas para agir de acordo. Não são todas, é um facto, mas são muitas ainda.
Tudo se deve aos estereótipos de géneros criados de que os homens são mais capazes, evidenciando a mulher como mais orientada para a gestão da casa e o seu papel de mãe. Exemplo disto é o de numa entrevista de trabalho serem questionadas acerca de terem filhos, coisa impensável quanto a um homem como se esta função fosse exclusivamente feminina e o facto de um homem ser pai não influenciar em nada a sua competência como trabalhador. A desigualdade salarial em cargos de igual importância também é um exemplo evidente.
Ainda hoje, aqui, sentada num café a desenvolver esta crónica, um grupo de jovens não fazendo ideia do que estou aqui escrever toca na ferida feminina como se me lessem o pensamento, eles acenam em concordância sem se prenunciarem profundamente sobre o assunto estando a salvo deste estigma. Estas novas gerações de homens mais educados para a igualdade ainda caem nos costumes muitos pelo comodismo que é, desde sempre, ser homem.
A mulher, definida como um ser frágil, delicado e vulnerável é por eles desvalorizada mesmo que afirmem negativamente esse preconceito. Contrariamente muitas de nós sabemos o quão multifacetadas somos e indispensáveis em todos os campos. Dotadas da mesma capacidade intelectual e concomitantemente com a capacidade de desenvolvermos as mais variadas tarefas.
A visão de que os homens são mais autoritários e consistentes e mulheres mais inconstantes e subservientes enfatiza a competitividade e a necessidade de serem melhores entre elas. Muitas mulheres criam aversão à maternidade, acredito eu, para não verem as suas vidas reduzidas e menos valorizadas. Somos classificadas pela roupa que vestimos ou até pelo número e qualidade dos relacionamentos que temos. Devemos então assumir a responsabilidade dos nossos comportamentos e reconhecer os nossos preconceitos.
Mulheres mais preocupadas com a imagem são conotadas de fúteis. Ser feminina não tem que anular necessariamente o feminismo. E passo a explicar, para quem ainda não sabe, que o feminismo não é ser superior e sim igual, dentro das nossas diferenças. Enquanto que mulheres fortes e duras são elogiadas pelas suas qualidades de liderança. A sensibilidade e a emoção ainda são caraterísticas impeditivas do sucesso.
O neomachismo, novo conceito do machismo clássico, é nada mais nada menos que uma forma disfarçada de dizer que as mulheres são inferiores aos homens, que têm menos valor e menos direitos. É praticado por ambos os géneros e normalmente tende a acreditar que o feminismo não é um movimento de igualdade de direitos, mas sim semelhante ao machismo. Sim, o neomachismo é uma visão masculina ou feminina culturalmente implantada, é discreto e entendido como natural.
Não nos enganemos, os preconceitos existem e sempre existirão. Será uma luta constante para que sejam conquistados cada vez mais direitos, mas dificilmente chegaremos a uma igualdade perfeita. As mulheres terão sempre maior dificuldade para arranjar emprego, ganharão menos e claramente serão menos bem posicionadas hierarquicamente nos seus postos de trabalho. É cultural.
Cada vez vemos mais casais abertos à aceitação de partilha de tarefas, de mente aberta e visão alargada da sociedade moderna, mas atrevo-me a dizer que o número crescente de divórcios se deve exatamente à imposição feminina, sua coragem e autoconfiança.
As maiores desigualdades são mais evidentes nos meios rurais onde as mulheres são menos emancipadas e onde também são mais vítimas de violência doméstica.
As novas gerações já estão mais educadas para a igualdade de géneros, mas existe a necessidade de as escolas intervirem mais neste sentido para educarmos homens e mulheres mais justos e conscientes e para que não exista a subordinação de um sexo ao outro. Queremos cada vez menos mulheres oprimidas e mais mulheres cientes do seu valor e capazes de enfrentar esta realidade cruel.
A discriminação feminina é universal e após mais de dois séculos de movimentos feministas, ainda há muito caminho a ser percorrido.
De entre tantas mulheres de sucesso que podia referir para terminar este artigo, escolhi uma por quem tenho enorme admiração, por toda a sua história de superação, Oprah Winfrey. Mesmo tendo uma infância pobre e na qual sofreu de abusos sexuais durante 5 anos, rompeu com a ideia de que uma mulher negra não pode chegar ao topo e com a sua história inspirou o universo feminino.
‘’Eu nunca me considerei feminista, mas não acredito que se possa ser mulher neste mundo e não ser uma.’’
OPRAH WINFREY