O francês Molière (1622-1673), de seu nome Jean-Baptiste Poquelin foi um dos maiores expoentes mundiais da comédia satírica e do teatro.
São muitas as frases extraídas da sua brilhante produção literária. Frases intemporais tais como estas:
“Um tolo que não diz palavra não se distingue de um sábio que se cala.”
“Todos os vícios, quando estão na moda, passam por virtudes.”
“Morre-se apenas uma vez, mas por tanto tempo!”
“As pessoas podem ser persuadidas a engolir qualquer coisa, contanto que venha temperada de elogios.”
“Quando nos fazemos entender falamos sempre bem.”
Sobre esta última, quando encontro por aí fora textos do tipo:
“O emponderamento de … foi procrastinado para mais tarde, apesar da resiliência de …”, sinto vontade de fazer uma ligeira modificação à frase final:
“Quando (não) nos fazemos entender falamos sempre bem.”
De facto, a língua portuguesa, na sua infindável dinâmica, presta-se a tudo, até às mais absurdas “pescarias lexicais” em prol da originalidade, inovação e pela capacidade de dizer a mesma coisa de várias maneiras.
O semiólogo francês Roland Barthes em “O Rumor da Língua” refere:
“Há linguagens que se enunciam, se desenvolvem, se marcam na luz (ou na sombra) do Poder, dos seus múltiplos aparelhos estatais, institucionais, ideológicos; chamar-lhe-ei linguagens ou discursos encráticos.” (…) “A linguagem encrática é vaga, difusa, aparentemente ‘natural’, e portanto pouco identificável: é a linguagem da cultura de massa (imprensa, rádio, televisão) e é também, num sentido, a linguagem da conversação, da opinião corrente (da doxa): toda esta linguagem encrática é ao mesmo tempo clandestina (não podemos reconhecê-la facilmente) e triunfante (não podemos escapar-lhe): direi que ela é pegajosa.”
E pegajoso é aquilo que cola facilmente, pegadiço, pegajento, pegalhoso, peganhento, peganhoso, viscoso ou… importuno, maçador… (net dicionário).
O “politiquês” e o “economês” são dois bons exemplos dessa linguagem pegajosa, vazia e sem sentido usada expressamente para falar sem comunicar. Ou baralhar.
E por não vos querer maçar mais, por aqui me fico. Bom fim de semana…
… com esta harmónica notícia musical: “Incluindo a interminável Amazónia e o pegajoso Adagio, em arranjo pseudo-erudito combinando cordas e teclados com um meloso saxofone.”
É tudo música…