Decência Democrática

É especialmente elucidativa da forma de governo que se instituiu em Nelas o que aconteceu logo após às eleições e à derrota do PS, uma governação que aparentemente e nos bastidores, parecia proceder à transferência desbragada de influência, entre o público e o privado, muitas vezes alegadamente através de um determinado escritório de advogados.

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  • 12:20 | Sexta-feira, 22 de Outubro de 2021
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As autárquicas foram no transacto 26 de Setembro e, na União dos Concelhos de Canas de Senhorim e Nelas, muitos foram os que ficaram surpreendidos com a derrota da candidatura que ostentava na lapela o símbolo do Partido Socialista.

O maior surpreendido deve ter sido o “socialista”, para o qual a democracia é um jogo que se joga em 12 horas de 4 em 4 anos. Ele que, meses antes, já andava a cantar vitória em diversos fóruns. “Perder eleições é a segunda melhor coisa em democracia, porque é sinal que se concorre”, gracejava na hora da derrota o indivíduo que não respeitava decisões da Câmara a que presidia, como se não precisássemos de respeitar e praticar a democracia todos os dias, ouvindo as opiniões dos cidadãos que a isso estão disponíveis. Já perto das eleições era notório o seu desespero e, a dimensão da sua derrota, sua e de quem insistiu agora e há 4 anos em apoiá-lo, não deixa margem para dúvidas.

A dimensão do desastre do que foram os seus mandatos só agora será conhecido (se alguma vez o será em toda a sua plenitude), que a propaganda não é a realidade. Já em 2017, após 4 anos de exercício presidencial e antes da reeleição, eram mais do que notórias as evidências de uma gestão atabalhoada, os tiques ditatoriais e a má educação intolerável, que deveria levar a qualquer cidadão, com ou sem responsabilidades, a descartar o apoio a tal personagem.


É especialmente elucidativa da forma de governo que se instituiu em Nelas o que aconteceu logo após às eleições e à derrota do PS, uma governação que aparentemente e nos bastidores, parecia proceder à transferência desbragada de influência, entre o público e o privado, muitas vezes alegadamente através de um determinado escritório de advogados.

No dia 27, um dia depois, uma advogada, em nome de uma empresa para a qual aparentemente trabalha(va), fez reunir 33 trabalhadores da Covercar, para lhe anunciar que estavam despedidos. Um dia depois das eleições. Certamente que foi uma coincidência e não assistimos a uma deliberada mistura de interesses que deturpa e entorse a democracia. Situação semelhante acontece agora com outra empresa, esta bem mais importante e que está a ser afectada pela crise dos semicondutores, e com a qual o tal escritório já teve(?) uma relação profissional muito próxima, onde agora estão a despedir colaboradores, alguns com 20 anos de dedicação. Este timming, logo após o acto eleitoral, será certamente uma mera coincidência, pensamos todos. Não é?

Este tipo de situações devia fazer-nos pensar na forma como toleramos as formas de gerir a coisa pública e o risco que pode constituir colocar o que é de todos ao serviço de poucos. Estas coincidências deveriam fazer disparar alarmes e acções para fiscalizar ilegalidades claras que por aí se comentem, que minam o regime e a democracia e que deveriam merecer fiscalização e sanção irrepreensível. Ou colocar uma Câmara a comprar a massa falida de uma empresa do qual o presidente é credor, ou intervir, enquanto presidente, em procedimento administrativo que potencia ganhos imobiliários de 50 mil euros em apenas 4 horas, não serão motivo suficiente?

 

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Publicado em Opinião