Não é novidade o polémico caso do lar em Reguengos de Monsaraz. Foi o maior surto de covid-19 em lares portugueses. Marcou Reguengos de Monsaraz, o Alentejo, o próprio país, mas marcou especialmente as famílias que perderam alguém.
Reguengos de Monsaraz serve como exemplo e como ponto de partida para uma muito necessária análise crítica de como queremos tratar quem necessita de cuidados. Serve também para repensar aprofundadamente qual deve ser a responsabilidade do estado no funcionamento deste setor.
Estes são assuntos que neste momento específico, em que estamos na iminência provável de uma segunda vaga pandémica de covid-19, não devem de todo ser minimizados, relativizados ou desvalorizados. Devem, pelo contrário, ser precisamente foco de atenção política para uma resposta mais estruturada e preventiva ao que ainda poderá vir à conta deste coronavírus.
Neste momento abundam as incertezas, não há projeto político para o que poderá vir aí, pouco ou nada se tem feito com as lições que poderiam e deveriam ter sido aprendidas com a primeira vaga.
As instituições para pessoas dependentes e necessitadas de cuidados, sejam elas idosas, tenham problemas de mobilidade ou demência, por exemplo, não podem nunca ser entendidas como armazéns ou depósitos. Cuidar do setor dos cuidados é cuidar de toda a gente e de todas as famílias. Dignificar quem necessita de cuidados é dignificar toda a sociedade.
É por isso necessário repensar todo o setor, neste momento entregue de forma pouco definida, algures entre a Saúde e a Segurança Social. Por um lado, é necessária a coordenação entre o Ministério da Saúde e o Ministério do Trabalho e da Segurança Social.
Por outro lado é necessária uma maior exigência na forma como estas instituições funcionam, dando formação, qualificação e condições de trabalho aos seus trabalhadores e trabalhadoras, reconhecendo a exigência do setor. Qualificar as pessoas que trabalham nos cuidados tem de passar, obrigatoriamente por lhes garantir condições de trabalho e salário estáveis, de acordo com a responsabilidade das suas funções.
Além destas alterações de carácter mais estrutural, não há desculpas para que não sejam tomadas medidas específicas que preparem o setor dos cuidados para uma segunda vaga de covid-19. É necessário dotá-lo de mais meios, formação e fiscalização assim como é necessário criar um programa de rastreio, testar toda a gente nestas instituições para impedir mais tragédias.
Fortalecer lares ou centros de dia é também fortalecer todo o país para uma segunda vaga pandémica, que será não apenas sanitária, mas também económica e social.