Crónica Social: Do fim da ligação aérea

A empresa de aviação Fly Sevenair anunciou que vai interromper a ligação aérea entre Bragança-Viseu-Cascais-Portimão por falta de pagamento do estado, naquilo que é, supostamente, mais um duro golpe na mobilidade das pessoas do interior do país. Será mesmo assim?

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  • 10:55 | Domingo, 06 de Outubro de 2024
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Sísifo era um rei grego, governador de Corinto, filho de Eólo o Deus dos ventos. Ficou conhecido pela sua astúcia e atitudes desafiadoras contra os Deuses.

Por ter traído Zeus ao revelar segredos divinos e tendo enganado Tânato, a personificação da morte, Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar uma enorme pedra até ao topo de uma montanha, para que, sempre que alcançasse o cume, a pedra rolava montanha abaixo, obrigando-o a recomeçar tão penoso e hercúleo trabalho para toda a eternidade.

“É preciso imaginar Sísifo feliz”, diz-nos o filósofo Albert Camus, que usou o mito para discutir o conceito do absurdo, sugerindo que, mesmo diante de tarefas aparentemente sem propósito, o ser humano pode encontrar significado na sua persistência.


De facto Camus utiliza a história de Sísifo como uma metáfora para explorar a filosofia do absurdo, que trata do conflito entre a busca humana por significado e o aparente silêncio ou indiferença do universo.

E por falar de um absurdo, sirvo-me precisamente do mito de Sísifo para introdução de outro: A empresa de aviação Fly Sevenair anunciou que vai interromper a ligação aérea entre Bragança-Viseu-Cascais-Portimão por falta de pagamento do estado, naquilo que é, supostamente, mais um duro golpe na mobilidade das pessoas do interior do país. Será mesmo assim?

Na verdade, e tal como Camus com Sísifo, não consigo imaginar os habitantes do interior mais felizes. Até porque não se compreende nem se justifica a necessidade do estado na subsidiação do preço dos bilhetes. Já não nos bastava a TAP, afinal também temos de suportar mais uma companhia aérea. Além de que a mesma é usada pelas elites locais e não pela sociedade em geral. Quem quer andar de avião que pague…! Até porque essas elites estão longe de precisar serem subsidiadas.

Lembro ainda que esta região é a mais politicamente à direita do país, sendo mesmo parte dela conhecida por ‘cavaquistão’, donde se deduz que por aqui se refuta o marxismo. Na antiga união soviética, os habitantes das regiões remotas da rússia deslocavam-se de avião até moscovo para venderem galinhas…! O Beirão e o Transmontano não só refuta todo esse estilo de vida, como também lhes repugna tudo quanto tenha a ver com comunismo. Por cá vivemos bem sem isso, preferindo desfrutar da pacatez de uma interioridade sem avião, do que da azáfama de um estalinismo com asas.

Assim como Sísifo é condenado a realizar uma tarefa inútil e interminável, os viseenses e demais povos do interior também enfrentam a luta de encontrar sentido num país que parece desprovido de propósito e de sentido político-económico.

No entanto, apesar dessa falta de sentido, o viseense pode encontrar liberdade e realização ao aceitar e continuar a lutar contra o absurdo, contra políticas marxistas, e contra o status quo subsidio-dependente e clientelista lisboeta.

Aqui pelo interior, advoga-se o término de todo e qualquer subsidio em geral, e o fim deste capítulo comunista-marxista em particular. Até porque a companhia de aviação não precisa, necessariamente, de acabar com esta ligação aérea. Pode bem voar sem subsídios, bastando-lhe para tal cobrar o preço do bilhete normal, e regular-se pela lei da oferta e da procura.

Tal como Camus imaginava Sísifo feliz, uma vez que, ao aceitar o seu destino, ele desafia o absurdo e encontra uma forma de vitória, é também preciso imaginar os viseenses felizes ao desafiarem políticas marxistas, rejeitando viver numa sovietização económica, e, acima de tudo, vencendo a interioridade por si mesmos.

Por aqui não se quer nem deseja outra TAP. Mais feliz ficaria o Beirão se outros subsídios acabassem. Levem-nos os subsídios. Mas não nos levem a liberdade!

 

P. ESTEVES

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Publicado em Opinião