Sísifo era um rei grego, governador de Corinto, filho de Eólo o Deus dos ventos. Ficou conhecido pela sua astúcia e atitudes desafiadoras contra os Deuses.
Por ter traído Zeus ao revelar segredos divinos e tendo enganado Tânato, a personificação da morte, Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar uma enorme pedra até ao topo de uma montanha, para que, sempre que alcançasse o cume, a pedra rolava montanha abaixo, obrigando-o a recomeçar tão penoso e hercúleo trabalho para toda a eternidade.
“É preciso imaginar Sísifo feliz”, diz-nos o filósofo Albert Camus, que usou o mito para discutir o conceito do absurdo, sugerindo que, mesmo diante de tarefas aparentemente sem propósito, o ser humano pode encontrar significado na sua persistência.
De facto Camus utiliza a história de Sísifo como uma metáfora para explorar a filosofia do absurdo, que trata do conflito entre a busca humana por significado e o aparente silêncio ou indiferença do universo.
E por falar de um absurdo, sirvo-me precisamente do mito de Sísifo para introdução de outro: A empresa de aviação Fly Sevenair anunciou que vai interromper a ligação aérea entre Bragança-Viseu-Cascais-Portimão por falta de pagamento do estado, naquilo que é, supostamente, mais um duro golpe na mobilidade das pessoas do interior do país. Será mesmo assim?
Lembro ainda que esta região é a mais politicamente à direita do país, sendo mesmo parte dela conhecida por ‘cavaquistão’, donde se deduz que por aqui se refuta o marxismo. Na antiga união soviética, os habitantes das regiões remotas da rússia deslocavam-se de avião até moscovo para venderem galinhas…! O Beirão e o Transmontano não só refuta todo esse estilo de vida, como também lhes repugna tudo quanto tenha a ver com comunismo. Por cá vivemos bem sem isso, preferindo desfrutar da pacatez de uma interioridade sem avião, do que da azáfama de um estalinismo com asas.
Assim como Sísifo é condenado a realizar uma tarefa inútil e interminável, os viseenses e demais povos do interior também enfrentam a luta de encontrar sentido num país que parece desprovido de propósito e de sentido político-económico.
No entanto, apesar dessa falta de sentido, o viseense pode encontrar liberdade e realização ao aceitar e continuar a lutar contra o absurdo, contra políticas marxistas, e contra o status quo subsidio-dependente e clientelista lisboeta.
Aqui pelo interior, advoga-se o término de todo e qualquer subsidio em geral, e o fim deste capítulo comunista-marxista em particular. Até porque a companhia de aviação não precisa, necessariamente, de acabar com esta ligação aérea. Pode bem voar sem subsídios, bastando-lhe para tal cobrar o preço do bilhete normal, e regular-se pela lei da oferta e da procura.
Tal como Camus imaginava Sísifo feliz, uma vez que, ao aceitar o seu destino, ele desafia o absurdo e encontra uma forma de vitória, é também preciso imaginar os viseenses felizes ao desafiarem políticas marxistas, rejeitando viver numa sovietização económica, e, acima de tudo, vencendo a interioridade por si mesmos.
Por aqui não se quer nem deseja outra TAP. Mais feliz ficaria o Beirão se outros subsídios acabassem. Levem-nos os subsídios. Mas não nos levem a liberdade!
P. ESTEVES