Costa só chegou a primeiro-ministro, em 2015, porque BE e PCP lhe garantiram maioria parlamentar. Mas cedo os chamou de “empecilhos” e não só recusou um acordo escrito com o BE, em 2019, como foi esvaziando as negociações à esquerda. Com o PSD e o CDS fracos, faz braço de ferro com a esquerda no OE 2022 e arrisca, com apoio de Marcelo, eleições, com a maioria absoluta no horizonte.
Muita gente atribui ao voto contra o Orçamento a deslocação de votos do BE e da CDU para o PS. Mas recordo que já depois dessa votação saíram sondagens que mantinham o BE em 3º lugar e a CDU a segurar o seu eleitorado. Mais tarde, as sondagens começaram a dar gás à direita, com os “media” a preparar “a eleição mais disputada de sempre”. O Público, dois dias antes das eleições, colocou na primeira página PS e PSD “lado a lado” e o BE em 5º lugar, embora com os mesmos 6% do IL e do Ch, quando a sondagem colocava o BE em 3º lugar, com a estimativa de eleger mais deputados do que o Ch, o IL e a CDU.
Um amigo confidenciou-me que desta vez não votou BE, “engoliu um sapo” e votou PS para impedir um mal maior, uma vitória da direita “austeritária” que se podia aliar à extrema-direita.
Foi esse receio que levou muitos eleitores de esquerda a votar no PS. Compreendo a sua opção, mas o facto é que, de mal menor em mal menor, andamos há quase meio século a alimentar um “rotativismo” sem alternativa, gerador de compadrio, nepotismo e corrupção, com as desigualdades sociais a crescerem e o Interior do país a (não) “ver passar os comboios”!
Se muitos eleitores de esquerda não se tivessem deixado iludir pelas sondagens e pelo “empate técnico” amplificado pelos “media” (O DN até divulgou um inquérito que dava o PSD à frente), o PS teria ganho sem maioria absoluta e provavelmente teria de voltar a negociar, a contragosto, com os partidos de esquerda. Ou então mostraria o jogo e optaria pelo “bloco central” que, na verdade, já ensaiara ao aprovar a maioria dos seus diplomas com os votos do PSD.
Para já retirou do OE o englobamento das mais-valias no IRS dos mais ricos. O outro motivo para o voto contra o OE foi o insuficiente reforço do SNS. Agora, vem o presidente do IPO de Lisboa a alertar para a fuga de médicos se não houver uma revisão das carreiras, tal como exigiam o BE e o PCP.
Há lições a tirar: pelos partidos que perderam deputados; pelos alquimistas de sondagens; pelos “media” que as amplificaram; pelos eleitores de esquerda que assustados por aquelas, apesar de não quererem a maioria absoluta do PS, ficaram com esse “mal menor” e com a esquerda enfraquecida perante a bravata da extrema-direita que provoca o Portugal de Abril. “Não passarão!”
(Foto DR)