Nunca reconhecemos no novo líder do PSD qualquer interesse pelo pensamento, sequer pela História, mas também não era necessária uma tão desinteressante partilha da ignorância com Cavaco.
Depois de quatro anos de liderança de Rui Rio, tudo estaria escancarado para que o novo presidente do PSD saísse do Rosa Mota em ombros. Não foi assim, o que demonstra que o conclave, mais do que ser o início de um caminho, uma partida com ânimo e com alegria, foi pouco mais do que uma obrigação.
As consequências da pandemia, a implicações da guerra, o tempo que já levamos de governo do PS nesta encarnação, tudo isto não foi suficiente para que o principal partido da oposição se encontrasse numa proposta política consistente, aliciante.
Olho as sete áreas de ação desta nova direção do PSD e nem sequer há uma única proposta que seja diferente do que já está em concretização.
O anúncio de menos impostos não é de hoje, trata-se de um disco riscado que Rui Rio, sem sucesso, foi tocando nos últimos cinco anos. Faria bem Montenegro se tivesse dito onde corta, como corta e quando corta. Certo é que em 2010 tínhamos uma situação difícil, por erros da governação do PS que trouxeram a troika, mas mais certa foi a desgraça que os anos de Passos implicaram na economia, empresas e famílias, ativo governativo do PSD que importa nunca esquecer.
Nas quinta e sexta propostas veio o lado social. A primeira, o ensino pré-escolar, como se não tivesse sido o PS, nas suas várias governações, a olhar para as crianças e para as famílias. Este programa está em marcha e se, em 2026, Montenegro for a votos, estará concretizado. A segunda é a que se prende com a política de imigração. Saltei da cadeira. Sempre foi o PSD quem negou as políticas de acolhimento dignas e com direitos. Também aqui tudo está mais à frente do que Montenegro.
O Pacto sobre as transições energética, digital e ambiental é folclore. Montenegro sabe que as linhas políticas estão definidas, estão até mais avançadas do que na maior parte dos países da União Europeia. Somos um dos estados membros que melhor se comportam nos indicadores de qualidade ambiental, somos um dos países que mais desenvolveram as energias alternativas, somos um dos países que mais usam, já hoje, as tecnologias digitais e a inteligência artificial.
Por fim a Regionalização. Já sabíamos que a Regionalização para o PSD ficou enterrada quando Cavaco abençoou Montenegro. Ficou tudo muito claro na aparição do ex-presidente há umas semanas.
Regresso a Cavaco para deixar mais do que a bênção e a Regionalização.
O novo líder laranja passa por momentos pelas áreas das soberanias, das tradicionais às mais recentes. Mas não se atém a um enquadramento, porque o que lhe importa é ser moderado mas não ser socialista, é ser qualquer coisa que não seja ultraliberal. Dito assim, até poderíamos pensar que o Congresso se tinha esquecido de Passos…
Montenegro é um líder tão fraco que nem sequer tem o cuidado de se proteger. Fala de António Costa, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes (até podia falar de Duarte Cordeiro ou de Marcos Perestrello) reconhecendo as estes estatuto e estatura. O PS onde há tantos para se lhe oporem… mas isso é mais tarde.
Deixo para último um tema que não interessaria nada ao congresso, mas interessa ao país. Diz Montenegro que não fará qualquer acordo com partidos racistas e xenófobos. Poderia ter olhado para o lado e ter dito a Bolieiro – está na hora de sair do governo regional e viabilizar um governo do PS.
Cavaco também acha que nos Açores o acordo faz sentido. Se a situação se proporcionar, Montenegro voltará a andar de braço dado com os lepenistas lusos. Não tenham qualquer dúvida os portugueses.