O princípio de Novembro, tépido e seco, autorizou as viagens de bicicleta. O governo de Portugal, atarantado com o corona vírus, mandou-nos ficar no concelho. Ao Periglicófilo, as autoridades proibiram-no mesmo de sair de casa. O Informático Motard declarou que também não saía. Os ciclistas de Sepins, impedidos pela lei de se aproximarem dos fornos do Patrocinador, fizeram o mesmo. O Físico perguntou: «Afinal, quem vai amanhã? Ou, devido à pandemia, cada um vai para seu lado?» Eu estava preso em Ílhavo. O Informático Ferroviário, ainda que de piquete, estava pronto para dar uma volta pelo território de Anadia. Marcou com o Físico para as oito e meia, mas, ao que sei, recorrendo ao Strava, a viagem dominical não se fez. Para o Ferroviário isso pesou pouco, porque no sábado, livre como o vento que tem soprado, foi a Cantanhede e à Pena.
O que nos resta, neste tempo, senão pensar no futuro? Imaginar ridentes passeios pela ciclovia do Dão ou de outra que se possa criar? Voar, por exemplo, numa estrada só de ciclistas e peões, que vá, da Pampilhosa à Figueira da Foz, pela linha férrea desactivada. Foi nisso que pensámos em 26 de Janeiro, na inocência de quem não acreditava em pandemias, quando passámos na Cordinhã. Perguntei então, circunspecto e reivindicativo, porque não assentam, nessa extensa faixa abandonada, uma ciclovia que lhe desse préstimo e perpetuasse a memória do comboio. A resposta chegou agora pela mão do Informático Ferroviário. De acordo com o jornal em linha Bairrada Informação, a Mealhada deu um passo nesse sentido: «A Câmara da Mealhada aprovou, por maioria, em reunião do executivo municipal, que se realizou na manhã da passada segunda-feira (19 de Outubro), o protocolo de colaboração com vista à criação de uma ecopista no antigo ramal ferroviário da Figueira da Foz. Serão quarenta e oito quilómetros de ferrovia convertidos numa pista de lazer que atravessa os municípios da Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Cantanhede e Mealhada.» Boas notícias, pensei. «Falta saber quando é que a obra arranca mesmo», comentou o Informático Ferroviário. Seria uma ciclovia abençoada. No Verão, saindo cedinho, íamos à Figueira num pé e voltávamos no outro…