Recentemente, a imprensa levantou o véu sobre a quantidade absurda de assessores e adjuntos que, na corte lisboeta, vão fazendo pela sua vida. O leitor-contribuinte ri, manda a graçola, mas no final é ele que assume a conta. Viseu tem fornecido Lisboa de adjuntos e assessores em boa quantidade mas, grosso modo, de duvidosa qualidade.
Regra geral, estas caras são facilmente reconhecidas por terem uma permanência extensa, ao serviço do partido, com passagens pelas jotas e CV’s profissionais raramente dignos de registo. Os viseenses mais atentos conseguem, sem repetir nomes, apontar uma mão cheia de casos deste género.
Assim, aparentemente desprovidos de grandes competências, a melhor, ou mesmo a única, forma de ascenderem socialmente passa por assumirem este tipo de cargos, sendo que o factor salário não é despiciendo. Onde ganharia tão nobre gente salários na casa dos quatro dígitos? Entre o desemprego, um mau salário ou o tacho de sonho, não podemos criticar a escolha. A culpa não é deles, é inteiramente do sistema que possibilita a sua ascensão.
Não tendo tempo para analisar caso a caso, no distrito de Viseu, entre vários que por estes dias fazem vida em Lisboa, salta à vista Sílvia Vermelho. Refiro este caso por ser o de uma jovem que alia um discurso aparentemente moderno a uma práxis digna do álbum “O Melhor do Caciquismo – Anos 90“.
Para quem não se recorda, Sílvia Vermelho, foi cabeça-de-lista do Livre Viseu, nas legislativas de 2015, não tendo sido eleita. Até aqui tudo normal, tudo muito digno de louvor público: Sílvia não se acomodou, foi à luta, apresentou as suas ideias, é isto a democracia.
Os primeiros acordes do best off dos anos 90 ouvem-se quando, passados poucos meses, Sílvia Vermelho assume o cargo de adjunta do mais conhecido pela produção de mirtilos que pela acção governativa Secretário de Estado do Desporto João Paulo Rebelo, nomeado pelo PS para o governo que sai, precisamente, das legislativas de 2015.
A atitude da agora adjunta, a exemplo da atitude que levou à demissão de Ricardo Robles, é absolutamente legal. Sílvia tentou conquistar um lugar por um partido, não conseguiu, logo de seguida recebe uma proposta de outro partido e aceita. Ninguém lhe apontará uma ilegalidade. No entanto, ao aceitar um lugar, num governo de outro partido saído das eleições a que concorreu, Sílvia mostra a que tacho veio e manda às malvas, em sinal de desrespeito pelos eleitores que nela confiaram, as regras do bom senso e a, tão celebrada cada vez menos respeitada, Ética Republicana.
Como disse o problema não é da ex-candidata do Livre, é do sistema. Contratar assessores, adjuntos e afins deveria ser um processo meramente administrativo aberto a concurso público em que os mais aptos são aceites, nunca nomeação directa. Como nada disto mudará tão cedo, se o nome de Sílvia voltar a figurar numa lista o eleitor viseense saberá dar-lhe o merecido cartão vermelho, porque quem não quer ser confundido com um/a Boy/Girl não lhe veste a pele.