Joel carregava às costas anos e anos de ensino. Lidara com turmas diversas e alunos únicos, na personalidade e nas capacidades, nas origens e no percurso.
Gostava verdadeiramente do que fazia.
Uma aula era um momento solene que ele continuava a preparar afincadamente, mesmo após muitos e longos de anos de experiência. Gostava que os alunos o ouvissem com atenção, navegando no saber que lhes transmitia.
Quando lhe falavam na aposentação, prevista para daí a uma meia dúzia de anos, retraía-se, era coisa que não desejava, tinha pavor de não fazer nada e ficar a um canto.
Uma tarde, saindo do pavilhão principal da escola de sempre, cruzou-se com uma aluna que, displicentemente, se livrava do papel gorduroso que embrulhava a lancheira, atirando-o para o chão.
– Deita o papel no caixote do lixo, ali à tua frente. – convidou-a Joel, convencido de que ensinar era também educar.
– Apanhe-o você! – respondeu-lhe a elucidada rapariga, com cartão de estudante.
Andou assim uns tempos, desiludido e deprimido.
Meteu baixa até poder e depois aposentou-se.
A resposta da miúda foi a campainha que acordou uma suspeita que andava latente no seu espírito inquieto e que, quem pode, e deve, tarda em dar respostas e encontrar soluções.
Vamos falar de coisas sérias? De alunos e professores. De escola e de família. De cidadania e sociedade. Do futuro.
Já não estarei cá para ver e para sofrer.
Mas temo pela minha neta Inês e por outros netos de avós iguais.